tag:blogger.com,1999:blog-46434171550423818582024-03-14T02:10:01.737+00:00El Tino Numero UnoConstantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.comBlogger33125tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-12163631595051467802012-10-24T22:52:00.001+01:002012-10-24T22:52:58.304+01:00O Condominio<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nunca fui grande barra a matemática, mas este factor não me impede de
ter noção de quando ultrapasso largamente o recorde de número de tropeções
diários no pavimento irregular da minha sala de estar, especialmente quando a
maior parte dos mesmos tem lugar na mangueira que atravessa a divisão maior de
minha casa vinda da pia da cozinha em direcção à varanda, para a descarga em
formato cachoeira de águas do Ganges à base de detergente espumoso com dois
andares de altura num caminho de sentido único para ir desaguar na calçada
pública, que diga-se em abono da verdade, apresenta uma regularidade de piso de
fazer inveja ao ladrilhador de peschinbeque que vagueou pela área pública do
meu protótipo de mansão durante a respectiva fase de construção. Apesar de ser
algo que me provoca graves ataques de equimoses dermatológicas e estomatites
estomatológicas, não posso afirmar que fico demasiado estropiado mentalmente
com o acto de tropeçar numa qualquer junta mais desviada, que em casos extremos
abre verdadeiros alçapões de quase cinco centímetros, onde já perdi duas unhas
dos mindinhos dos pés e dez gramas de fiambre de sola do pé, pois na maioria
das vezes apenas consigo aumentar a velocidade de empranchamento para mergulho no
sofá de fabrico italiano, sendo portanto um pequeno conjunto de esponjas
emolduradas numa estrutura maciça de madeira de carvalho velho, onde não raras
vezes, a caniche da minha mais que tudo me afaga carinhosa e involuntariamente a
aterragem, deixando-me contudo a roupa cravada de pêlo encaracolado e muco
nasal extraído através do seu focinho eternamente húmido e minúsculo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fico danado sim, quando penso que o pivôt dentário que teve morte
imediata na quina da mesa de jantar, após uma queda falha de pontaria no que ao
acolchoado das almofadas do sofá diz respeito, me poderá vir a ser útil no
futuro, quando eu tiver que enfrentar com poucas unhas e ainda menos dentes uma
solipa de madeira cozinhada pela minha donzela, que normalmente me é
apresentada como sendo carne originária de um qualquer mamífero bovino exótico de
estufa, conquanto eu aposte todo o marfim que me decora a cavidade oral, que o
alimento que permanece inerte no prato à minha frente entre duas batatas
infectadas de míldio cozidas e umas colheradas de puré, já viu muitos comboios
de mercadorias passar-lhe os metálicos rodados por cima a toda a velocidade, a
caminho de uma qualquer central nuclear, com os contentores na sua quase
totalidade radioactivamente corroídos. Infelizmente nem o problema do pavimento
de minha casa ser mais irregular que uma passagem montanhosa do Utah acabada de
ser atravessada por cinco manadas de colonos mórmons, nem os dotes culinários
da minha princesa, ao nível de uma dona de gruta do pré-pleistoceno acabada de
descobrir os benefícios do fogo na confecção de carne de animal cuja vida havia
sido ceifada há pouco tempo a toque de calhaus de xisto afiados nas carapinhas
de guerreiros rivais empalados na cerca da aldeia, podem ser apresentados em
reunião de condomínio para posterior resolução.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Foi assim dentro de uma dinâmica vanguardista bastante antiga, que fechei
o matutino com vários meses de existência que consultava desembargadamente de
pernas para o ar, enquanto sentava as minhas nádegas gémeas na loiça cerâmica
sanitária, e me concentrei com o intuito de galhardamente congeminar um plano
que levasse a que uma reunião de condomínio a ser albergada nos barris
plásticos de azeitonas pretas galegas guardados na cave que durante o inverno
são arrendados pelos moradores a sem abrigos em troca de trabalho escravo,
resultasse na contratação de um pedreiro-livre e de uma nutricionista para
execução de alguns trabalhos nas áreas comuns do prédio, período que eu
aproveitaria para numa decisão bastante popular entre os quadros gerentes dos
diferentes serviços públicos, coloca-los sob a minha alçada, se bem que a
expensas dos restantes co-moradores, que muito simpaticamente não levantariam a
mais pequena objecção, derivado do total desconhecimento da situação a
atropelar alarvemente a fronteira da legalidade, que regra geral, ajuda
sobremaneira à colaboração entre vizinhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Portanto muni-me de um espírito entrepeneuriano, como talvez só tenha
tido uma vez na vida, quando durante certa altura da minha conturbada juventude,
decidi enveredar pelo design crânio-capilar rapando o cabelo a toda a minha família
nuclear enquanto estes dormiam, e por família nuclear entenda-se um casal de primos
ucranianos do meu pai, nascidos e criados em Chernobyl onde o seu progenitor
exercia as funções de provador de vegetais produzidos nos incandescentes campos
agrícolas da localidade tragicamente famosa. Iniciei então uma quimera de
ingestão a granel de fruta de formato fálico arqueado, popularizada por ter o
seu nome associado a uma República sem leis nem regras e onde se diz que as
donzelas não usam lingerie para encobrir as vergonhas e os machos nascem com
estômagos incrivelmente esponjosos para superior absorção de néctares de
elevado teor etílizante. Após a digestão, arregimentei as cascas do fruto e
distribui-as irmãmente pelos degraus da escadaria comum em pedra moleanos, encardidos
e coçados pelos pitons de alumínio das chuteiras que todos os condóminos fazem
questão de calçar à entrada do prédio para não riscar o pavimento do mesmo com
o pó que trazem da rua nos sapatos, o que muito contribuiu para a camuflagem da
armadilha vegetal que viria a ter grande impacto comercial na tabela de
proveitos da farmácia vizinha, através de um excepcional surto de compra de
mercurocromo e betadine, isto claro para além do caso especifico do cão guia do
sr. Pedro Bisgarolho que após tropeçar no último degrau de acesso às águas
furtadas onde este ia roubar os garrafões do mineral inodoro e incolor aí
armazenados por mim para prevenir a quebra no abastecimento de água da rede
pública no Dia do Julgamento Final, rebolou até ao patim do 1º andar, onde
aterrou de focinho, transformando-se numa questão de segundos de um garboso
Pastor Alemão, num baboso e anão Pug com as quatro patas engessadas e uma cauda
maior que o resto do corpo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para grande tormento de todos os moradores do meu habitáculo de uma
assoalhada, inicialmente o plano não atingiu os objectivos pretendidos aquando
da sua magicação no chalé cagatório, pois durante a nervosa assembleia de
vizinhos ficou latente um certo ressentimento primário pelos danos corporais
incutidos no canídeo, o que para mim se revelou ser uma surpresa visto já por
diversas vezes terem vindo à baila reclamações acerca do porte animalesco do
animal carnívoro. Felizmente alguém puxou à conversa os longos dias de baixa
médica requisitados pela quase totalidade dos condóminos derivado dos
estatelamentos no ascensor pedestre e em três penadas fui eleito Presidente da
Administração de Condomínio, com plenos poderes definidos nos estatutos, para
não só decidir acerca de qualquer questão em discussão na Assembleia, como
também para fazer ataques com trovões e relâmpagos desde que os mesmos sejam
emanados do sovaco, no caso dos primeiros e das mãos no caso dos segundos. Na
impossibilidade de completar este último predicado, contentei-me em enojar
repetidamente os meus camaradas de fogo habitacional com repetidas repetições
de trovões axilares entrecortados por um odoroso trovão nalgar, bem como em aprovar
a moção que se encontrava sobre as costas de um sem-abrigo enrolado num caixote
de papelão de um frigorífico Ariston de classe energética D, que havia alugado
um dos barris de azeitonas em troca de três horas em posição canina,
vulgarmente apelidada de quatro, de modo a servir de mesa para a reunião de
condóminos, e igualmente para o repasto que se seguiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A partir deste momento foi uma questão de aguardar pelos dois pseudo
profissionais nas respectivas áreas e tratar da resolução dos meus dois problemas.
Para grande surpresa minha, nenhuma das questões logrou ser apagada da minha
ardósia, onde para além de manter em dia a contabilidade dos comprimidos
diários que tomo contra a alergia ao giz, também são assinaladas todas as
coisas que me perturbam o quotidiano. O que tristemente aconteceu foi tão só
que o pedreiro-livre contratado era um agorafóbico, para quem eu e a minha mais
que tudo representavam uma multidão esfomeada e em fúria a atacar uma padaria
após a fornada da manhã, pelo que se recusou a pousar o que quer que fosse dos
seus calcantes na nossa sala. A única pessoa que conseguimos fazer ultrapassar
com sucesso a ombreira de porta da nossa casa, em madeira besuntada a cuprinol,
foi a nutricionista, que para tristeza do meu aparelho digestivo era hindu,
pelo que a simples menção de bife bovino da minha parte, a levou a ameaçar-me
com o sacrifício de um dos meus lóbulos auditivos em oferenda a Mahatma Ghandi,
o Deus da falta de proteínas animais no bucho, o que inviabilizou qualquer tipo
de palpite da sua parte acerca da forma de melhorar os dotes culinários daquela
com quem viverei até que a morte nos separe. No final de contas apenas consegui
aproveitar a sua visita para resolver o problema de excesso de magnésio
acumulado no organismo através da ingestão deliberadamente exagerada de fruta
originária da bananeira.<o:p></o:p></div>
Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-63433669142446052532012-10-07T23:04:00.000+01:002012-10-07T23:04:03.146+01:00O Teatro<div style="text-align: justify;">
À hora marcada nos cartazes colados nas paredes virgens do Bairro Social ainda por inaugurar com cuspo laganhoso recolhido durante quatro longos anos em bancos de suplentes de equipas de basebol que disputaram o Campeonato de Veteranos das Minas de Amianto, uma buzina industrial ecoa com estampido pela sala anunciando a paragem da produção operária no ramo da obliteração bilhética. Ao mesmo tempo a sala é invadida por paramédicos para socorrerem um espectador em paragem cardio-respiratória na primeira fila e um outro com surdez momentânea sentado junto a uma coluna de som. Entretanto já circulam pelo amontoado de cadeiras várias meninas em trajes de can-can segurando sobre os volumosos peitos largas bandejas pejadas de pacotes de frutos secos, pipocas e peta zetas, para conforto de estômagos cujo tamanho já só seja medido em escalas de grossura de papel cavalinho, bem como de pacotes de preservativos para todos aqueles para quem o conforto desejado seja mais de foro intimo carnal. O diminuto tamanho das bandeletes usadas à cintura como único vestuário pelas meninas de can-can. deixa patente que neste auditório será mais fácil dar sumiço ao desejo carnal do que receber troco pelo pagamento de um pacote de amendoins torrados descascados banhados em mel de abelha africanizada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apagam-se as luzes, sobe o pano e em palco vislumbram-se dificilmente as figuras de Constantino e Esposa sentados no que parecem ser duas cadeiras de praia em frente a um móvel de televisão apenas adornado com um rádio de dois decks de cassete abandalhadamente poisado sobre um naperon oitentista. Uma toalha sobre o que ao longe parecem ser dois caixotes de papelão empilhados, simula uma mesa que separa ambos os seres humanos e junto da Mais-que-Tudo a silhueta de um cão salta á vista. Supostamente é o caniche do casal, mas o seu tamanho, imobilismo e ligeiro brilho ao toque da ténue luminosidade revela à audiência tratar-se de um cão-de-loiça em formato São Bernardo cuja única semelhança com o pustulento animal de colo que por vezes partilha o leito de repouso dos donos, é o tamanho do barril que traz ataviado ao pescoço. Não fosse o caso do Técnico de Adereços estar hospitalizado ainda em convalescença de um canino ataque no canil local quando fazia castings para o papel de “cão” e talvez a ordem de despedimento do mesmo já pudesse ter sido acertado com o Presidente da Companhia TRAZ, abreviação de Teatro Ridiculamente AZelha, devido a deficiente desempenho da actividade laboral, avaliação para a qual contribui sobremaneira a fita adesiva laranja florescente que se vê do último balcão, a segurar uma das patas da cadeira de Constantino. Entre pedidos de silêncio da plateia e pom-pons de chearleaders, o espectáculo tem início: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Donzela, enquanto afaga o toutiço cerâmico do cão – nem consigo acreditar no que estou a ouvir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Constantino, levantando os olhos do tampo da mesa, onde crava com a ponta de um canivete suíço comprado numa loja de roupa para crianças a chave do totobola – experimenta tirar esses edredons que tens a tapar os ouvidos e talvez oiças melhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Princesa, de olhar perdido num cortinado cor pastel que tapa uma suposta janela – o silêncio é constrangedor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Constantino, de olhar fixo, frio e penetrante na entrada dos bastidores onde o adjunto dos Adereços manobra desastradamente com a boca a sua cadeira de rodas – pois, se ao menos o cão ladrasse. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cai o pano sobre o primeiro acto, literalmente. O varão feito de pontas de esparguete cozidas que suporta as cortinas cede ao peso do carpinteiro que por ele trepava a fim de barrar o mesmo com molho de bolonhesa para o lubrificar à passagem das argolas. Mais tarde o relatório de autópsia do operário realizado por três conceituados chef’s irá revelar que o excesso de cozedura desproveu a massa italiana de elasticidade e sustentabilidade eliminando por completo as suspeitas que recaiam sobre a qualidade do molho de tomate, que muitos injustamente acusavam de ser apenas ketchup. A queda do pano deixa a nu a superfície felpuda que cobre o tórax de Constantino, uma vez que no momento do acidente ele se encontra a mudar de fato-macaco. Após a retirada de entulhos e restantes detritos, incluindo uma orelha lascada do bibelot animal que perece ao impacto do tecido de fabrico egípcio, sobe ao palco um espectador para de surpresa dar um concerto de gaita-de-foles. Na verdade a gaita-de-foles não tem fole, pelo que é apenas um pífaro. No final da actuação o espectador vira as espaldas ao público, dobra a pélvis e levanta o kilt. A palavra “free” aparece tatuada na nádega esquerda e a palavra “dom” revela-se pujante na nádega direita. Confirma-se que o individuo é escocês e da plateia começa a ouvir-se em uníssono desafinamento e numa muito mal conseguida tentativa de pronunciamento escocês os versos da “Auld Lang Syne”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nas primeiras filas a agitação é constante perante o desejo de colocar os olhos, e quem sabe vir a conhecer Chen Guang Cheng, dissidente chinês e um dos principais responsáveis pela publicação do “Livro Vermelho” de Mao Tsé Tung, que está sentado na terceira fila, junto ao corredor para mais facilmente aceder aos lavabos e saciar os desejos da bexiga incontinente que se aloja há uns anos no seu corpo de tez amarelada, excepto nas costas onde a cor da preguiça sucumbiu ao negro do cicatrizamento de golpes de chicotes feitos a partir de folhas de listas telefónicas para não deixar marcas. Foi um destacado encadernador da gráfica onde o livro foi produzido e é reconhecido como o individuo que teve a ideia de o encadernar em capa dura para poder servir de suporte para copos de sumo de bambu em piqueniques nas montanhas de Minshan. Aproveitando a sua cegueira derivada de ter sido ele o revisor de texto de todos os “Livros Vermelhos” produzidos, a seu lado senta-se um monge budista tibetano radicado em Teerão, onde desempenha funções olheiro ao serviço das melhores madraças do país, fornecendo aconselhamento psicológico e executando testes psicotécnicos junto de escolas secundárias e algumas universidades a fim de recrutar os melhores terroristas suicidas do país. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Entram os actores para o segundo acto, saltando à atenção o sorriso alaranjado de Constantino. De facto o confuso término do primeiro acto custou-lhe a perda dos dentes postiços, pelo que em seu lugar traz na boca um quarto de laranja, o que lhe dá um ar de quem acabou de almoçar um pote de lava fundente acabadinha de afundar em cinzas uma qualquer localidade piscatória numa ilha do Pacífico. A Mulher-da-Vida dele mantém o ar áspero de quem sabe que o melhor amigo do homem não é facilmente substituído por uma peça de faiança, por muito que esta não tenha em si motivos fálicos. A mesa também danificada na refrega foi agora substituída por um par de grades plásticas de cerveja. O burburinho que ecoa dos bastidores não deixa dúvidas de que o conteúdo das grades já foi alegremente consumido. O segundo acto tem início sem que a maior parte da audiência tenha voltado do bar, onde assistem a uma declamação de poesia islandesa, obra e graça de um norueguês nostálgico da língua original do seu país. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amorinho, enquanto simula um entrançar de cabelo, impossível desde que o encenador lhe rapou o cabelo à máquina zero como praxe por ter sido aceite para este papel – (silêncio) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Constantino, levantando-se do chão após queda aparatosa por tropeção no pífaro encardido deixado para trás pelo escocês – (silêncio) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ligam-se todas as luzes do auditório e o rádio em cima da mesa de televisão começa a debitar bem alto sons de electricidade estática entrecortados por breves interrupções de comunicações via walkie talkie entre a governanta do hotel localizado a duzentos metros da sala de espectáculo e uma sua subalterna. Entre contagens de peúgas e camisas é perceptível que se trata da lista de roupas a entregar na lavandaria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Constantino, limpando o pó das calças, cujo padrão xadrez azul e laranja fica agora visível a todos os que pagaram por um lugar sentado – até que enfim o piquete da companhia eléctrica resolveu a avaria. Desliga o rádio e as luzes e vamos deitar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cai um toalhete com aroma a mentol sobre o segundo e último acto. A Donzelinha Linda continua em palco, onde se deixou dormir encostada a um dos pilares em papier maché que segura a estrutura onde ficou colocada a Orquestra Muda que muito contribuiu para o silêncio constantemente afinado durante o espectáculo. Constantino em três passos coloca-se na frente do palco e faz uma vénia às numerosas cadeiras já vazias após a deserção dos seus prévios ocupantes em direcção ao bar onde estão a oferecer cálices de natas azedas sobrantes dos galões tirados ao intervalo. O espectáculo terá excelentes criticas com toda a certeza.</div>
Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-29567351436271300422012-04-10T16:36:00.001+01:002012-04-10T16:36:52.498+01:00O Troféu<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Não é de grande monta a espectacularidade da conquista, nem sequer
suficientemente importante para ser brindada com o derramamento daquele liquido
borbulhoso que me foi ofertado no casamento do primo da minha querida esposa
como sendo algo parecido a champagne francês, mas cujo teor de contrafacção ficou
convenientemente visível por o gargalo da garrafa ser vedado com uma rolha de
papel de alumínio cilíndrica enrolada em pelicula aderente culinária e ao
centro do vasilhame de vidro constar um rótulo publicitando sumo de goiaba
Islandês. Mas pronto, não há como negar, o troféu foi ganho com todo o mérito
da minha parte e só esse singelo facto já lhe confere o estatuto de divina
importância para a minha pessoa, digno de ser fiel depositário da minha saliva
com hálito matinal nauseabundo, aquando do oscular diário e obrigatório à peça
em questão. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">É certo que apesar de ser o meu nome que foi gravado a cinzel na
chaparia de latão colada na fachada da Taça por um menor europeu escravizado,
no porão de um barco de pavilhão guatemalteco em águas internacionais no Oceano
Pacífico, mas confere-me a obrigação de confessar que o mais próximo que estive
de participar na refrega da qual provém o único troféu pertencente a um Ser
Humano que adorna o espaço delimitado por quatro paredes que é o meu paraíso
matrimonial, foi cerca de 200 metros, quando estacionei a moto 4 gentilmente
pedida por empréstimo com recurso a arma branca, mais especificamente um pacote
de leite extra cálcio pelo meu passageiro, a fim de o deixar a ele, o real
concorrente da disputa, em frente ao Auditório Municipal da Terra, que tem este
nome por ser construído com recurso exclusivo a terra, ou neste caso
específico, areia da praia ensopada pela ondulação pujante de salitre, o que já
resultou em duas ou três derrocadas da nave principal, que por mera
coincidência é a única, felizmente sem feridos a registar, durante a época das
monções, que é como a malta aqui se refere ao período entre as três e as quatro
da madrugada, ou em português simples “hora de funcionamento da rega automática
da relva do quintal do Sr. Matias”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Não que seja um facto de extrema importância, mas o olhar assassino da
minha mais que tudo obriga-me a ressalvar aqui que, por muito que este seja o
único titulo a constar na lista de conquistas do casal, as vitórias não são
factos exclusivos dos humanos nesta casa, visto ainda estar em exposição desde
há quatro anos a esta parte, no topo do nosso televisor o troféu com que foi
agraciado o nosso caniche por parte da Associação CARAPINHA “Cabeças Rapadas
Por Indivíduos Negros do Huambo Angolano”, que se dedica à recolha de cabelos
humanos ou animais para a fabricação de capachinhos destinados a serem
oferecidos a idosos cuja calvície ficou exposta após terem sido vitimas de
roubo das suas cabeleiras postiças em bairros violentos e degradados do Huambo,
por parte de malfeitores que posteriormente as utilizavam para praticar crimes
hediondos como encher chinelos de enfiar com pasta de dentes ou espuma de
barbear, deixando para trás folículos capilares que futuramente iriam
incriminar os reais donos das cabeleiras. Assim e graças ao meu perspicaz
varrimento de pêlos caninos do chão flutuante riscado por não menos caninas
unhas, a oferta de sete sacas de serapilheira atabafadas de pêlos brancos e
encaracolados, rendeu ao elemento quadrúpede do matrimónio um fio tecido em
polpa de avelã da Patagónia com uma pequena inscrição dizendo “Eterno
Agradecimento dos Angolanos Albinos Carecas”. É importante que se refira que a
espessura e tamanho diminuto do troféu, se revelou deveras útil quando trocamos
o velho televisor de estilo sessentista por um moderno plasma flat screen, pois
de outra forma ele não caberia no topo da caixinha mágica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Reportando novamente à distinção que agracia a sala de estar de minha
casa, onde serve igualmente de suporte para porta-chaves, bonés e
ocasionalmente paus de incenso em chamas piromaníacas a fim de estropiar a
divisão do cheiro nauseabundo dos cozinhados asiáticos do incestuoso casal
pré-adolescente que habita em segredo o apartamento abaixo do meu, esta foi
brilhantemente acoplada ao meu currículo mediante uma participação bem-sucedida
num torneio de Soletragem de Palavras Nativas Australianas. Levantando um pouco
do véu que cobre insidiosa e transparentemente o segredo que rodeia o referido
troféu, revelo que na verdade não foi a minha excelsa pessoa a competir pela
glória no torneio organizado pela associação de amigos da minha rua, da qual
sou sócio desde sempre, sem contudo alguma vez ter participado nas actividades sociais
por ela organizadas, tais como reuniões, confraternizações ou combates de
escaravelhos em caixas de sapatos tamanho 24, para que não haja muito espaço de
fuga para o insecto menos corajoso, por muito que tenha pago o fecho da minha
marquise com o dinheiro ganho a apostar no escaravelho propriedade do Sr.
Santiago Lencastre e Sepúlveda, pois só nós dois sabemos que o insecto
apresentado como escaravelho hindu das estepes Siberianas é efectivamente um
escorpião venenoso do Sahara que foi outrora pertença de um não menos outrora,
famoso negociante de riquexós na capital do Império Bizantino, portanto dois
quarteirões a norte de minha casa, e que faleceu exactamente devido a uma
picada do temido bicharoco, sendo que na altura se pensou que o individuo havia
sucumbido às feridas infligidas por um ataque de triciclo a dois tempos,
portanto tempo parado e tempo em movimento, conduzido por um recém-nascido em
plena crise de intolerância láctea e em excesso de velocidade, tal era o
tamanho das lacerações que o insecto do deserto lhe havia deixado nos tendões
rotulianos e nas luvas de borracha que na altura utilizava pois encontrava-se a
fazer a limpeza a seco do roupão de cabedal com que o referido assassino entrava
em ringue.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Ora, a fim de me declarar vencedor de uma modalidade que eu não domino
minimamente, optei por fazer uso da minha total abstinência de travar conhecimento
com os membros da associação, para numa jogada de mestre digna de figurar nos
anais da história do desenrascanço desportivo anglo-saxónico, convidar o dono
de uma loja especializada em brinquedos sexuais da Oceânia com o sugestivo nome
de “Antilopinus” para que este participasse em meu nome. Desta forma e apenas
em troca da compra de algo que, mal-grado a lâmina em inox, afiada de um lado e
dentada do outro, embainhada num invólucro de cabedal e encabeçada por uma pega
em madeira, me foi garantido não ser uma catana, mas apenas um “persuasor
sexual de mulheres”, garanti que o Sr. Ualparri Uarramunga seria efectivamente
um eu de tez ligeiramente mais escura, o que não seria problema derivado da
numerosa comunidade de dioptrias indígenas que habitavam ambos os globos
oculares da presidente do júri, o que motivava que aquando das suas passeatas
matinais, os invisuais que se dirigiam para a fábrica de bolas de espelhos para
discotecas contigua ao nosso bairro onde laboravam como cobaias em testes de
luminosidade das vidraças reflectoras, terem que se desviar dela no passeio a
fim de não serem abalroados. Os atropelamentos tornaram-se de tal forma
frequentes que os administradores da fábrica decidiram retirar dos seguros as
alíneas que referiam ser os mesmos vigentes durante a viagem casa/trabalho/casa,
até porque constava já haver um negócio paralelo de indivíduos com visão
imaculada que cobravam singelos honorários para distrair os cães guias com
recurso a bifes do acém e da alcatra, para que fosse impossível impedir o
choque acidental entre a senhora e o invisual, para que este pudesse, não só
meter baixa por invalidez, como também ser ressarcido pela entidade seguradora
numa soma que lhe possibilitaria comprar, no mínimo, duas embalagens das sempre
indispensáveis coleiras anti pulgas para os canídeos fielmente treinados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">No final de contas, a estratégia surtiu efeito, por muito que o Sr.
Uarramunga não tenha sido capaz de soletrar uma única palavra, limitando-se a
repetir à exaustão o seu nome, visto ser essa a única resposta que era capaz de
dar a uma pergunta pronunciada numa língua que não a aborígene. O facto de ele
ter aportado ao nosso país há menos de uma semana não me foi facultado, mas
revelou-se um pormenor sem importância, pois a peleja não despertou um mínimo
de interesse na comunidade local e ele foi mesmo o único a responder à chamada,
tendo arrebatado o título ao fim de quinze minutos de silêncio por parte do
júri, entrecortado por urros seus, vociferando o seu nome de baptismo.
Poder-se-ia pensar que o facto de eu não ter participado activamente na
conquista do esbelto objecto retiraria valor sentimental ao mesmo mas isto não
corresponde à verdade, pois fui eu o mentor da recuperação do item cinco dias
apenas após a minha esposa o ter depositado honrosa e solenemente escondido por
baixo dos restos bolorentos de um molho de escabeche confeccionado seis meses
antes, dentro do caixote do lixo. O resgate não foi feito com pompa nem com
circunstância visto ter sido necessário utilizar a última meia dúzia de dias de
férias para chafurdar insistentemente na lixeira municipal com um detector de
metais, até finalmente o encontrar. Poderia ter sido bem mais rápido a
recuperar o troféu se em vez de um detector de metais tivesse recorrido a um
homónimo de PVC, afinal de contas a matéria-prima na qual ele tinha sido estoicamente
moldado. Apenas tenho que felicitar quem o pintou de dourado de forma tão
perfeita que me induziu ao engano, por muito que a minha parceira matrimonial
já tivesse levantado dúvidas pelo constante escamar da película colorida, que
deixava a descoberto a matéria azul acinzentada peculiarmente utilizada na
produção de material de canalização para escoamento de águas sépticas. </span></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-43867086333137885992012-01-13T15:54:00.001+00:002012-01-13T15:54:15.827+00:00O Aniversário<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">25 de Dezembro – Hoje a minha sogra faz anos e é Natal. Na minha
cabeça não há forma de não pensar que existe uma forte relação cósmica entre
estes dois acontecimentos, especialmente se tivermos em atenção que isto é algo
que se repete todos os anos, o que a mim me causa admiração pois esta altura do
ano é vista como uma Quadra Santa e este é o último nome que me passa pela
cabeça chamar ao velho bisonte. A festa de aniversário está marcada para amanhã
pois a jarreta quer aproveitar a greve de enfermeiros e auxiliares do lar para
proporcionar uma tarde de pândega aos seus colegas de vazadouro. Infelizmente,
o convite a solicitar a minha presença já me foi entregue, mal grado eu ter
recusado por três vezes a encomenda. Acabei por receber um telefonema anónimo
onde umas cordas vocais femininas desgastadas por cerca de 80 anos de tagarelice
inútil e de gritaria pseudo-histérica, me ameaçavam com a possibilidade de ser
feito um telefonema para uma rádio local a pedir a transmissão em ondas hertzianas
de baladas de cariz piroso-amoroso em meu nome.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Após ler que a festa teria lugar no pavilhão gimnodesportivo do lar onde
há uns anos eu e a minha mais que tudo a depositamos, não pude deixar de soltar
um esgar irónico, seguido de um esgar de dor, pois enquanto lia o convite
telegráfico que apenas dizia “estás convidado. A festa é no gimnodesportivo do
lar. Haverá rastreio do cancro da próstata”, deixei que o fogo que eu tinha
ateado ao mesmo convite me atingisse o polegar direito, mesmo apesar de o papel
estar seguro pela minha mão esquerda. Coloco a hipótese de a gasolina em que
embebi o convite poder ser responsável pelo tamanho das labaredas, mas por
outro lado também é possível que eu tenha abusado um pouco no napalm. Sempre
ouvi dizer que para fazer uma folha A4 são necessárias duas árvores, mas
reparando que o convite havia sido impresso em papel cavalinho de gramagem 120,
preferi não arriscar e utilizei a quantidade de napalm indicada para dez árvores,
e mais um pouco. No fim de contas, tudo resultou como esperado, tendo o
referido papel ficado absolutamente incinerado, tal como a porta da minha
cozinha, o que deverá ser do agrado da minha princesa, uma vez que ela já há um
meses que me pedia para trocar aquela porta, derivado do elevadíssimo número de
vezes em que a mesma se havia fechado e trancado misteriosamente
impossibilitando a sua cadela de sair da cozinha e ir à caixa de areia fazer as
suas necessidades. Confesso que para mim o mistério da porta que fecha e tranca
sozinha não existia, até porque tenho sempre bem presente na memória as coisas
que eu faço às escondidas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Após reflectir sobre o assunto que prometia incomodar a minha pacata
vida de desempregado, por pelo menos uma tarde, decidi-me a comparecer na festa
de aniversário, até porque o facto de esta não ser no quarto da ex. mulher do
meu já falecido sogro, implicava que ela não iria estar presente, uma vez que
se encontrava imobilizada na cama. Efectivamente, esta impossibilidade de se
levantar, nada tinha a ver com problemas físicos, apenas resultava de uma aula
de introdução às tapeçarias de Arraiolos promovida pela associação de
solidariedade, vulgarmente conhecida por INAPTOS, sigla de INcontinência AParece
a TOdas as Sogras, no decorrer da qual a excelsa mãe da minha mulher conseguiu
a habilidade de se bordar à cama. Por acaso, na foto que foi publicada no site da
INAPTOS, é visível que o ponto de Arraiolos está bem repuxado sim senhores e
que os motivos florais da tapeçaria em que se transformou a progenitora da
minha esposa em muito beneficiam o aspecto físico da velha carcaça. Uma vez
mais ficou patente que não há nada que umas orquídeas envoltas em arabescos não
possam embelezar, não obstante a desfocagem da cara da mulher na foto também
ter ajudado à tarefa se bem que pecou por escassa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">De facto, o incidente já aconteceu há umas boas três semanas, mas
ainda não foi resolvido. No dia da aula de Arraiolos, a professora bem tentou
soltá-la, mas não foi bem-sucedida pois ela era apenas uma substituta da
professora especializada em Arraiolos que se havia ausentado nesse dia para
comparecer a um workshop de rendas de bilros. Infelizmente para a enferma
idosa, que a acreditar no mau feitio que conserva, não estará tão enferma quanto
seria universalmente desejado, a professora substituta tinha tirado a
especialidade em bordados de Castelo Branco, e apenas tinha preparado a aula
com uma rápida leitura na diagonal do manual de execução do ponto de Arraiolos,
sendo que não houve tempo para aprender a desfazer os mesmos. Entretanto fora
contactada a Associação de Tapeçarias e Naperons À Base de Lanifícios e
Inertes, presidida pela D. Arminda, disléxica que havia eternizado a sigla da
associação como TALIBAN, a fim de ser enviado um piquete de emergência. Para
azar daquela cujo hobby é infernizar a minha vida e sorte de todos os que a
rodeiam, o único piquete que estava ao serviço naquele dia na TALIBAN era o
piquete de greve, que se encontrava de plantão devido a um protesto contra o
elevado preço que os amoladores de agulhas estavam a cobrar pelo indispensável serviço.
Quando contactados, levantaram a tarja que dizia “Uma Agulha Romba Nem Serve
Para Vos Partir a Tromba” e ficaram de dar um saltinho ao lar dentro de dois
meses, visto ser essa a duração prevista da greve. Recordo bem que na altura lhes
propor que prolongassem a greve por mais quatro anos, mas fui informado que tal
seria impossível pois tinham uma encomenda de lã da Índia prevista para chegar
em Outubro e que se não fosse logo aplicada em serapilheira rapidamente se
deterioraria. A tristeza patente na minha face foi de tal forma visível que
eles se retiraram com a promessa de que a fim de empatarem tempo, iriam
proceder à abertura de um Concurso Público para contratação de uma técnica
especializada em casos destes. No geral, apontavam para seis a sete meses para
a conclusão da libertação da mulher que eu tinha herdado da minha esposa,
através do casamento.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">26 de Dezembro – Hoje é o dia da festa de aniversário do ogre que deu
à luz a minha esbelta esposa e as coisas começaram logo a correr mal. Uma vez
mais desconfio que há relacionamento cósmico-tântrico entre os factos
anteriormente mencionados. Logo ao sair de casa deparei com as minhas
sapatilhas de rodinhas assentes em quatro tijolos. Sem surpresa descobri que me
roubaram as rodinhas que haviam sido recauchutadas há pouco tempo, logo depois
de eu ter capotado para uma sarjeta por ter perdido a aderência ao piso quando
atravessava uma estrada alagada de cerveja que havia escorrido de dentro de um
barril na coleira de um São Bernardo. Não querendo aqui entrar em acusações
estéreis, a verdade é que, nem o São Bernardo tinha licença para o transporte
de bebidas alcoólicas, nem a mesma seguir em vasilhame em inox como está
regulamentado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Este ligeiro imprevisto custou-me a chegada tardia ao palco da festa,
que só por acaso, até já tinha finado. Segundo relatos deixados escritos nas
paredes por alguns presentes a coisa não tinha corrido pelo melhor, uma vez que
o caquéctico ser tinha mandado vir um rabino para a cerimónia do aniversário,
mesmo apesar de poucas semanas antes se ter convertido ao islamismo. Também facto
que causou estranheza foi o de a mesa de carnes frias não incluir carne de
vaca, segundo a imobilizada, por motivos religiosos. A título de curiosidade,
dizem as más-línguas que as carnes frias tinham sido acabadas de confeccionar
quando chegaram à mesa, o que levou a que diversos idosos tenham ficado cegos uma
vez que o calor emanado pelos bifes lhes embaciou as lentes garrafais dos óculos,
o que deu azo a um divórcio visto que a Sra. Dona Marília, ao ver o seu marido
cair de quatro agarrado à saia da jovem e esbelta empregada da empresa de
catering meteu baixa da sua crónica dor de cabeça e enfardou um valente chocho
no rabino. Só alguns minutos mais tarde é que a precipitada senhora reparou que
a queda do seu marido havia sido motivada pela quebra do eixo da roda traseira
da sua cadeira de rodas, que finalmente havia vergado a anos a fio de
enferrujamento. Infelizmente para o pobre rabino, já nada havia a fazer pelo
seu casamento pois se é verdade que fora a Sra. Dona Marília a beija-lo, também
não é menos verdade que quem levantou a saia à septuagenária foi mesmo o
clérigo e a sua esposa estava demasiado longe do calor das carnes frias para
não ver aquele desplante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Felizmente para mim, à hora a que cheguei ao local da festa, apenas lá
estava o curador do edifício, que muito gentilmente me convidou para uma visita
guiada pela história do mesmo. Foi assim desta forma que fiquei a saber que o
projecto do edifício era de origem japonesa, pelo que toda a estrutura do mesmo
era propositadamente resistente a sismos, algo deveras útil se tivermos em
conta que mais de sessenta por cento da população do lar era acometida pela
doença de Parkinson e que destes, quase quarenta por cento sofriam de alzheimer,
o que fazia com que frequentemente se esquecessem dos apelos dos funcionários
para que não se encostassem às paredes. Curiosamente todas estas explicações
foram-me dadas pelo meu interlocutor sem que, por uma vez que fosse, ele se
tivesse levantado da cadeira. Parece que sempre houve rastreio do cancro da
próstata e pelos vistos era de presença obrigatória.</span></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-76535667260933957552011-10-07T16:38:00.001+01:002011-10-07T16:39:50.688+01:00O Lema<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Saí a correr de casa, apenas com um saco de espinafres a tiracolo e uma mochila com a roupa suja que já não cabia no tanque, para entregar no Exército de Salvação, em direcção à minha sede de campanha, que estava instalada no bunker nuclear da cidade, o qual havia sido embargado pela Câmara local três dias após o inicio da sua construção devido a diversos problemas estruturais, entre os quais o facto de não estar enterrado na crosta terrestre, a coincidência de o local da sua construção já ter sido previamente ocupado pelo buraco nº 7 do Golf Course local e também porque o único “betão” que fora aplicado na sua construção ser o próprio proprietário do edifício, um minhoto paranóico natural de Tel Havive, que havia sido baptizado com esse apelido por, desde pequeno, pentear o cabelo à tigela e vestir calças à meia canela. Infelizmente para ele, ao segundo dia de trabalhos foi atropelado pelo buggy das sandes que havia ficado destravado no tee de partida no topo da colina, onde um palestiniano de kilt fúchsia e branco ameaçava detonar os balões de água que trazia à cintura se o condutor do buggy não lhe providenciasse uma gelatina de Três Sabores envolta em leite-creme. Após uma autópsia que revelou como causa de morte sufoco por engasgo com um chumbo de dente que se havia soltado após o impacto da viatura eléctrica, o óbito foi declarado por um estudante de medicina dentária que trabalhava no campo de golfe como limpa bolas durante as férias do verão, seguindo-se o cumprimento do último desejo do Betão que consistia em ser enterrado no seu bunker, tornando-se o elemento mais sólido do edifício e também, o único a quem um ataque nuclear não iria atingir pois apenas ele fazia companhia às raízes da vegetação no subsolo terrestre.<br /><br />Ali escondido na escuridão do bunker, onde apenas conseguia enxergar o meu próprio nariz durante cerca de dez minutos, que era a duração da energia solar na estrela fosforescente colada no tecto do edifício, recapitulei o momento do anuncio da decisão à minha esposa, que malgrado ter aceitado muito bem a noticia, me custou três divórcios e outros tantos casamentos com ela, correndo o risco de este número poder aumentar no exacto momento em que ela despertar do seu quarto coma motivado pelo impacto do seu esbelto crânio com o pavimento lustroso da nossa habitação após o seu quarto desmaio relacionado com o facto de eu lhe ter comunicado, também pela quarta vez, a minha famigerada decisão. É certo que poderia já ter optado por lhe comunicar a boa nova quando ela estivesse confortavelmente deitada no nosso leito matrimonial, mas o medo de a decisão de divórcio ser, desta feita, irreversível, impede-me de o fazer e agora apenas me limitarei a entabular a dolorosa conversa quando ela se encontrar com a caniche ao colo, na eterna esperança de a ver prostrada em cima do abominável animal, poupando-me assim a vergonha de ter que percorrer a distancia entre a loja de comida para animais e a minha casa com um pacote de quinze quilos de comida para peixe, pois o bichano ainda não tem o seu “eu” perfeitamente identificado e nos últimos tempos desenvolveu uma paixoneta de adolescente por qualquer animal de guelras e escamas que a minha donzela coloque na tábua de cortar, a fim de preparar o nosso repasto.</span><br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Foi embrenhado no meio destes pensamentos que choquei de frente contra o primeiro grande desafio eleitoral, a que tinha que corresponder com a mesma solicitude e pragmatismo que aplico aos momentos épicos da minha vida quotidiana, como a árdua opção de abandonar o uso da vulgar cueca de pano aparrada à virilha e dar a exclusividade da protecção genital aos boxers de tecido elástico, mas acetinado, mais condizentes com as dinâmicas dimensionais e de ocupação de espaço na zona, decisão que me levou alguns anos a acolher mas a que acabei por aceder de livre vontade após conselho paroquial. Agora nem o ai-Jesus dos acólitos do bairro me poderia valer, pois precisava limpar o caruncho da minha massa encefálica e engendrar um lema que levasse os cerca de oito sócios do Meu Clube a colocar a cruz mágica em frente ao meu nome, em vez de pedirem ao Sr. Cruz mais um saco de pevides para verem o próximo jogo de um clube sem Direcção, algo que não havia impedido a sua subsistência desde a fundação, onde já na altura, a votação magna havia sido substituída por uma garrafa de pirolito Bilas e umas azeitonas britadas.<br /><br />Já dizia o meu colega de carteira do 7º ano, do alto de toda a sua sapiência de professor catedrático da universidade do encosta ao balcão taberneiro, que “mente sã e corpo são ajudam a aguentar a alcoolização”. Dizia-o exibindo, com o mesmo orgulho que um militar graduado expõe a sua distinção da Ordem de Torre e Espada, a folha A4 onde um médico de charuto na boca e um dedal de moscatel destilado numas águas furtadas num canto recôndito da Beira Baixa raiana na mão, havia escarrapachado o severo diagnóstico de cirrose terminal, que lhe cortava a direito e sem anestesia os horizontes do futuro, ao ponto de o ter levado a contrair matrimónio aos catorze anos para poder procriar um herdeiro, a quem contava vir um dia a confiar aquele pedaço de papel, já emoldurado, que fazia dele o Casanova das filhas dos empresários do ramo da produção e contrabando de bebidas à base de cereais e legumes excedentes das quotas de produção impostas pela UE, instigadas pelos seus progenitores a trazerem para casa alguém que estaria sempre mais preocupado em lhes deixar todas as suas posses em troca de um mata-bicho hortofrutícola de alto teor etílico, do que em lhes dar a santa machadada nas regalias hereditárias das suas descendentes, sendo que no que tocava à Guerra das Espirituosas, como viria a ser chamada pelas autoridades, um hímen tinha o mesmo valor que um soldado raso na batalha de La Lys.<br /><br />Na verdade durante a minha juventude nunca entendi o verdadeiro significado da expressão utilizada até à exaustão pelo bom do Meio-Fígado, como era pomposa e carinhosamente tratado por todos aqueles, que como eu, tinham prazer em partilhar com ele uma partida de Malha no Bicho, mesmo considerando que a partir da segunda semana de aulas o famigerado jogo popular foi rebaptizado com o nome de Malha no Meio -Fígado, o que reflectia a afeição que todos nós tínhamos por ele, a ponto de baptizarmos uma das nossas diversões supremas com o seu nome. A verdadeira compreensão da dimensão das palavras dele só me chegou já adulto e quase literato, na corrida a algo mais que a presidência do Meu Clube, algo como um espaço no betão coçado da bancada central, onde pudesse em fim ver ao perto as diatribes do conjunto do meu coração e poder ofender com aproposito toda a dignidade do árbitro da partida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br />Para mal dos meus pecados, a devida compreensão do significado da expressão utilizada pelo jovem alcoólatra abateu-se sobre a minha cabeça à mesma velocidade que a calvície, apesar de não ter a mesma relação que esta tinha com a exposição a uma garrafa de vodka, com níveis mais elevados de urânio do que o autocarro de transporte de operários das minas da Urgeiriça ao fim de um dia de trabalho, que havia sido importada da Ucrânia por um siciliano a quem tinha sido adjudicada em concurso público o aluguer da casa de banho de serviço da garagem do nosso prédio, onde ele gere um, muito bem-sucedido, negócio de desmembramento e ocultação de cadáveres. Definitivamente só entendi o erro de análise que havia feito ao adágio do Meio-Fígado após acabar de o adoptar e escrever, como lema de campanha, em 10.000 panfletos artesanais, feitos nas costas de bilhetes do comboio-fantasma que haviam sido adquiridos há uns cinco anos, para proporcionar novas experiências à minha sogra, especialmente a sensação de falecimento após sentir o braço esquerdo dormente e uma leve picada no local onde, na altura, eu pensava existir algum órgão provocador de batimento cardíaco, o que mais tarde se veio a perceber ser um erro de julgamento da minha parte, pois todo o dinheiro investido na diversão apenas resultou num hediondo desgrenhamento capilar no toutiço da idosa, que a transformou na maior atracção do dito comboio-fantasma, sem que contudo eu obtivesse algum lucro fiduciário do acontecimento.<br /><br />Agora, cometido o enésimo erro da minha vida, restava-me esperar que a elevada taxa de analfabetismo na massa associada do Meu Clube facilitasse a minha subida ao poleiro, até porque eu lá estaria à boca da urna a garantir-lhes que a colocação da cruz no quadrado em frente do meu nome seria a decisão que mais facilmente lhes garantiria o alivio do aperto de pescoço que as minhas mãos lhe estariam a facultar, bastando-lhes que o dito rabisco fosse igual ao que haviam feito no respectivo bilhete de identidade.</span></div>
Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-84551274337866662182011-09-28T14:56:00.001+01:002011-09-28T14:56:13.604+01:00O Clube<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A ideia surgiu-me enquanto tentava fumar um penso de nicotina arrancado directamente do dorso amarelado pelo fumo da cadela da minha princesa, após ter entornado uma tigela de uns, normalmente, muito voluntariosos mas absolutamente intragáveis weetabix sobre o maço de tabaco numa noite de insónia, originada pelo facto de já ter a barba tão grande que me chega aos sovacos e faz cócegas a noite toda.<br /><br /> Acima de tudo o que me levou a avançar com a candidatura à presidência do Meu Clube foi o simples facto de já não recordar sequer as cores do equipamento do mesmo, pois nos últimos quatro anos, o meu bilhete anual tem sido para um lugar que fica situado por detrás do marcador manual em tabopan infiltrado por humidades e formigas, que a avaliar pelos estragos, serão descendentes das corrosivas térmitas africanas, onde o Sr. Teófilo, rapaz nos seus quarenta e poucos anos, portador de obesidade mórbida e coleccionador de uma vastidão de flagelos de índole física e mental, vai actualizando o resultado dos jogos, muito diligentemente mas com algum atraso motivado pela sua dificuldade de locomoção, que aliada ao facto dos jogadores visitados serem tão prendados técnico-tacticamente quanto um gorila paralítico acabado de importar dos Montes Virunga, faz com que variadas vezes tenha que ficar a actualizar resultados até duas ou três horas após o término dos prélios, o que levou a direcção da agremiação desportiva a instalar um trolley para confecção de cachorros quentes junto ao marcador para que o rapaz se possa ir alimentando durante a empreitada, pois a última coisa que se precisa é de um funcionário que sofra de subnutrição.<br /><br /> Dizem as mentes que fazem do boato uma profissão tão respeitada e admirada quanto um clérigo num bas-fond de alterne, que a velocidade que o Sr. Teófilo aplica na actualização do marcador é exactamente a mesma que ele aplicava nos seus idos anos de futebolista do Meu Clube, onde continua a ser recordado como o maior guarda-redes a sentar os seus jerrycans de celulite, vulgarmente apelidados de nádegas, no banco de suplentes do clube, isto quando o caminho balneário/banco era ainda feito em tempo útil, portanto aquele compreendido entre o apito inicial e o silvo final do árbitro, algo nunca conseguido nos primeiros sete jogos após as festividades do Natal e Ano Novo, por razões nunca explicadas, mas que certamente terão estado na origem da sua proibição de comparecer nos jantares de Natal da equipa.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Felizmente para o Teófilo que, apesar de ter maior entendimento de modalidades como o corredor da morte ou ténis-à-parede do que de futebol, é quem me vai relatando as incidências das partidas que o Meu Clube disputa no seu quase-recinto desportivo, os últimos plantéis da equipa da qual sou sócio, têm sido constituídos por jogadores que denotam a mesma propensão para o jogo do século que o pobre Teófilo calçado com havaianas, uma algália numa mão e um frasco de soro na outra. Desta forma o bom do Teófilo apenas tem que actualizar o marcador com os golos adversários, bastando-lhe para isso vestir uma t-shirt numerada a cada golo adversário, até porque ele tem metade do tamanho do placard, sendo que uma estratégica colocação no lado a bombordo do dito marcador, usualmente reservado ao visitante é suficiente para informar a marcha do resultado.<br /><br /> Apesar da capacidade exibicional da equipa do Meu Clube andar por níveis mais baixos que um termómetro na Sibéria Setentrional, na última temporada o bom do Teófilo viu a sua destreza física e porque não dize-lo, mental, ser colocada à prova por duas vezes, nas quais foi obrigado a alterar a numeração no marcador da minha equipa. Isto sucedeu nas duas vezes em que o adversário chegou à dezena de golos e, visto ele só ter t-shirts até ao número 9, optou por assinalar o algarismo das unidades em si próprio, aproveitando o porte que Deus e vinte e duas tortas de Azeitão por dia lhe deram, e colocar o algarismo das dezenas ao espaço habitado por um casal de cegonhas, que nos tempos áureos da equipa da casa estava reservado para a exposição do número de tentos facturados pelos seus outrora prolíferos atacantes.<br /><br />A decisão de partir para a candidatura única à presidência do Meu Clube é o lado mais simples da mesma, mais exigente será constituir uma lista, isto tendo em conta que terei que a constituir a partir de um grupo de indivíduos habituais frequentadores de uma comissão de linchamento da minha pessoa, cuja primeira reunião se deu no dia em que, devido ao repentino aparecimento de uma flash-mob no pavimento betuminoso da estrada de acesso ao estádio do Meu Clube, em dia de jogo, fui obrigado a guinar repentinamente a direcção da minha bicicleta, acertando em cheio com a antena do auto-rádio no olho direito de Adelmiro, o sumo-pontifice da nossa equipa na arte de abanar as redes adversárias e último individuo presente na memória colectiva das bancadas a facturar um tento sem ser na sua baliza, já lá vão quase sete anos. Só a rápida acção de um oftalmologista impediu o fim prematuro da carreira desportiva do atacante, mesmo que actualmente ele seja obrigado a entrar em campo com óculos de mergulho graduados. Pior fiquei eu que nunca mais consegui sintonizar o meu auto-radio em FM, estando desde então confinado a rádios de qualidade mais que duvidosa em emissão AM. Naquele dia, toda a massa adepta me considerou culpado pela goleada sofrida pela equipa da terra, pois desfalquei-a do seu melhor elemento, ou pelo menos, daquele que menos erros comete durante o exercício da sua função de avançado, uma vez que só muito esporadicamente a sua intervenção na partida ultrapassa a escolha de campo antes do apito inicial, tal é a falta de caudal ofensivo da turma da casa.<br /><br />A decisão é difícil, mas para reduzir o número de candidatos a integrar a lista, tomei a decisão mais complicada do meu ainda curto reinado de candidato e exclui logo à partida todos os responsáveis pelo arremesso de archotes em chamas para dentro da casa dos meus vizinhos do rés-do-chão. Estes seriam destinados ao meu lar, mas o latido voraz, assassino e intimidador da caniche da minha esposa fez a turba recuar de medo, pelo que os ditos archotes foram lançados a tal distância que a força de deslocamento deles foi incapaz de superar a força da gravidade e o que chegou a ser visto a caminho do terceiro andar em que resido, foi posteriormente recolhido pelos bombeiros sapadores no incinerado rés-do-chão dos meus colegas de condomínio.</span></div>
Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-89814902836471672132011-06-25T00:27:00.004+01:002011-06-25T00:33:17.530+01:00Os Exercicios<p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Não sou um tipo muito dado a exercícios para além do habitual abrir e fechar de boca solidário em frente ao aquário da sala, apesar de estar habituado a correr em dias de maior ventania, sendo que nem sempre corro para o lado que pretendo. Digamos que a fronteira da força de vontade de alguém que, pesa sessenta quilos nos dias em que acorda com a neurose do coleccionismo de cascalho, deve andar à volta de rajadas de quarenta a cinquenta quilómetros/hora, isto, claro enquanto as pernas não vergam à força dos quinze quilos de calhaus acumulados nos bolsos. É que a força de vontade de um indivíduo estatelado no passeio na posição de frango assado só aparece esporadicamente quando um jardineiro esquece a enxada com o cabo em posição erecta, como se houvesse visto um sacho em ferro galvanizado e cromado, bem no meio da calçada. Em todo o resto do caminho resta-nos esperar que aquele workshop intensivo de pombo-correio na Feira do Campo do Cachopo tenha valido a pena para que se possa regressar a casa. Já que mais não seja, o anel identificativo na pata vai ajudar muito no momento de pedir instruções.</span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Como já me havia avisado o veterinário da bichana da minha mulher, ou como diz na porta dele, o Sr. Ginecologista, todo o exercício másculo não se deve estar dependente de três factores tão subjectivos como são a força da natureza, a parca memória do peixe comprado na Loja da Ana Teresa ou a posição de missionário, que essa está destinada à reza. Segundo ele, no futuro eu poderia vir a sofrer de atrofia muscular, para além da que já se manifesta a nível cerebral, especialmente nos primeiros 5 minutos da visita ao Lar para ver a minha sogra, até porque nos restantes 2 minutos em que me aguento no quarto já só estou a pensar se a velha iria espumar muito da boca se, acidentalmente, uma das minhas mãos lhe colocasse uma caixa inteira de Lorazepam na boca, ao mesmo tempo que a outra a obrigava a engolir o apetitoso farnel de fabrico laboratorial. Na verdade, ela já poucas vezes me dirige a palavra e eu noto que a nossa relação não é a mesma desde que lhe ofereci, pelos anos, o livro “Anita e a Injecção Letal”. </span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Ainda na abalizada e muito respeitosa opinião do homem a quem eu deixo metade do meu subsidio para me garantir que eu não ando a brincar em parques de diversões com baloiços enferrujados, a atrofia muscular poderia vir a resultar em momentâneas perdas de força nos membros inferiores e limitações ao nível de reflexologia, dando-me de barato uma bestial desculpa para utilizar todas as manhãs em que a minha donzela me encontra prostrado de nariz e pêlos do peito no mármore do patamar do nosso andar, após uma bela noite regada com o mais carrascão néctar de cereja e morangos, mesmo apesar de ela nunca acreditar, até porque os dentes tingidos a vermelho são os mais perfeitos delatores de uma noite de borga no Aloxi Bar, local onde experienciei os melhores momentos de atrofia muscular a nível de membros inferiores e onde pela primeira vez vi os efeitos da falta de exercício ao nível dos reflexos.</span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">O Aloxi Bar é propriedade do Zé Matreco, que ao contrário do que o nome indica detesta matraquilhos. Para ele a única mesa onde se devem decidir jogos de bola é a de cabeceira, fiel depositária do pagamento de uma noite de coboiada entre uma concubina com sotaque e um agente da autoridade arbitral e onde este deverá levantar a respectiva factura a fim de pedir reembolso àqueles a quem ficará a dever umas miopias momentâneas durante 90 minutos. </span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">O Ze Matreco é, a titulo de curiosidade, uma personagem bem peculiar, nascido como Itamara dos Reis em Maceió dos Anjos, bem no centro da Selva Amazónica, tendo trocado de sexo após um surto de candidiase vaginal na sua tribo, transmitida por 2 guatemaltecas que andavam na apanha da borracha, ou como é comummente chamada esta actividade nas zonas do interior de Terras de Vera Cruz, viviam do sexo seguro em troca de dinheiro. Com a desflorestação agressiva da grande floresta, a borracha começou a ser escassa e o látex passou a ser utilizado apenas pelos ancião da aldeia, pois assim garantiam uma maior durabilidade do mesmo, algo só alcançável por aqueles que pouco uso lhe davam. Malgrado este factor, a vida tem que ser tocada para a frente, a praga tornou-se incontrolável e Itamara tomou o ônibus em direcção ao sexo forte e o avião em direcção à Europa. Em Portugal abriu o seu boteco a que deu o nome de Aloxi Bar, que lido ao contrário é “Rabixola”. Ao contrário do que o nome possa indicar, este não é uma referência a si, mas sim aos 7 que passaram 4 anos de férias no Hospital de São José após terem sido atropelados pelo 32 da carris, conduzido pelo Zé Matreco durante uma marcha do Orgulho Gay. Ainda hoje ele exibe no seu bar o para brisas do autocarro todo autografado a purpurinas saídas das bem barbeadas bochechas dos acidentados.</span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Foi assim, aqui neste antro de podridão e falta de limpeza que senti pela primeira vez a falta de reflexos atingir-me violentamente, apesar que não tanto quanto o cálice de iogurte-cerveja que fez da minha cana do nariz um acordeão a ser tocado por um duende a calçar havaianas. Basicamente, estava eu à conversa com o Tó Matreco, que como o nome indica, é filho do Sr. João Coelho, um dos maiores artesãos do país na área do corte manual de pavimento cerâmico, sendo que começou a trabalhar peças de tamanho 1,20m x 1,20m mas que neste momento, por ser vitima de uma retinite pigmentar galopante, apenas produz ervinel para piscinas tamanho 0,25m x 0,25m. Enquanto discutíamos a exequibilidade de uma modalidade desportiva que mesclasse o poder de arremesso da corda de um berimbau com a galhardia picadora de uma seta em direcção a um alvo estampado na rótula de um qualquer assalariado, ressalvando a vantagem de se poder colocar à porta do bar um cartaz a anunciar música étnica ao vivo, ouviu-se um grande alarido vindo do bengaleiro. </span></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 10pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Em causa estava a recusa do empregado do bengaleiro em aceitar guardar no seu espaço um andarilho de um idoso de 27 anos, contrapondo este que o propósito do andarilho era o mesmo de uma bengala, apenas com um tamanho mais abrangente, pelo que seria elegível para passar a tarde junto dos casacos, bengalas, kalashnikovs e bolas chinesas que a clientela tinha ali depositado. A meio da discussão foi arremessado um cálice de iogurte-cerveja, que como o nome indica, era uma mistura de leite com chocolate e coca cola. Na verdade eu vi o objecto em voo picado na minha direcção, qual Morimoto Matsuiama a carregar sobre o USS Arizona. Posicionei a boca para ingerir o líquido, mas não estava preparado para o efeito. O que eu pensava que era uma bola rápida, era afinal uma bola curva, que foi como ficou o meu nariz, com mais curvas que uma estrada serrana. Uma vez mais ficou provado que o meu jeito para o desporto era bastante limitado.<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p></o:p></span></p>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-51118432103944871582011-05-26T14:16:00.003+01:002011-05-26T14:42:03.420+01:00O Vicio<p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Estou com dificuldades em dormir e a principal causa desta situação não é a rudeza do guardanapo que utilizo para limpar a baba que a cadela da minha mais que tudo insiste em despejar na minha bochecha, enquanto arfa o seu hálito de restos do nosso jantar de ovos escalfados com ervilhas directamente no meu nariz. Sinto o meu estômago passear alegremente, como que a saltitar numa praia, a duas milhas náuticas de um naufrágio com derramamento de um petroleiro, pelo meu abdómen fora, qual monge acabadinho de ser excomungado da Igreja Católica, após se aperceber que o voto de castidade acabou de ir para o galheiro e que, por isso, pode começar a preencher os papéis de divórcio da sua mão direita pois a partir de agora vai passar a dançar o corridinho a dois, a três ou a quatro. </span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Tudo isto porque sinto a minha relação com os meus vizinhos deteriorar-se a cada dia que passa, de tal forma que já tenho saudades dos olhares de soslaio que estes me lançavam nos tempos em que eu, à sorrelfa, lhes misturava a roupa na lavandaria do condomínio, acto que fez com que o Sr. Apolinário usasse durante quase quatro meses as cuecas fio dental da filha do Sr. Laurindo, por estas lhe terem ficado enroladas nos pêlos anais, após as ter vestido, naquele que ele chamou um "acidente" derivado do facto de serem da mesma cor dos seus boxers, o inconfundível branco virginal de quem já não o é. </span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">O facto de a cuequinha encarcerada em tão recôndito local ser de renda, levantou na altura, diversas insinuações acerca do têxtil de fabrico dos boxers do homem, mas acima de tudo, a troca de lingerie conduziu a uma campanha de difamação da minha pessoa, orquestrada pelo infame Apolinário, que chegou ao ponto de ser colada na porta de entrada do prédio uma comunicação que informava todos os condóminos que eu, Constantino, havia sido visto a consumir maça Bravo Esmolfe no almoço de comemoração dos 23 anos do aparecimento do bigode da D. Antónia, quando era pública a minha preferência por maça Golden. Acima de tudo, sempre reneguei e continuarei a renegar a Bravo Esmolfe pois de tão pequena que é, praticamente se evapora à passagem do desencaroçador. E não mudarei a minha opinião, não ser que a indústria dos utensílios de cozinha se decida a produzir um com um raio de acção bem menor, permitindo-me degustar um pouco mais do que a casca verde do fruto.</span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Desta feita o desagravo da vizinhança deve-se ao único vicio que actualmente alimento, isto, claro, após ter feito tratamento ao meu anterior vício de observar o crescimento das minhas unhas dos pés, o que me custou o despedimento do emprego por absentismo, bem como o aumento do meu peso em três quilos e duzentas por sedentarismo, sendo que no final não entendi a lentidão de todo o processo, talvez por idiotismo. Assim, a única coisa que me faz fugir às minhas obrigações, é assar fofos cubos de marshmalow no hall de entrada do prédio, tendo, por isto, sido denunciado por diversos condóminos, revoltados com o facto de eu só utilizar acendalhas de petróleo, em vez das ecológicas, o que deixa um cheiro a plataforma petrolífera em todo o fogo habitacional, que por sua vez, está a provocar o deslocamento de especialistas em exploração do ouro negro para o local a fim de estudarem a existência de reservas abundantes do minério em questão.</span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Acima de tudo a causa da ira dos vizinhos é a escassez de lugares de estacionamento que esta demandada de estranhos está a provocar, até porque o estacionamento subterrâneo do prédio continua totalmente preenchido com o rebanho de ovelhas e três coelhos que o Sr. Tibério trouxe da Trás-os-montes natal. São para cima de cento e cinquenta cabeças de gado, ao que se deve somar cerca de cem metros quadrados de erva artificial que as ovelhas estupidamente consomem como sendo alfalfa de superior qualidade. Neste ponto, uma palavra de apreço para os três coelhos, que até hoje não se deixaram levar pelo embuste, apesar do mesmo lhes custar longas temporadas sem amaciarem o estômago faminto.</span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Como cabecilha desta revolta contra a minha pessoa, está plenamente identificado o Sr. Rei, que desde o maléfico comunicado das maçãs tudo tem feito para me dificultar a vida. Convém referir que o Sr. Rei é neto do magnata das maças, inventor, produtor e vendedor da maça Reineta, sendo ele, hoje em dia o dono da fábrica da maça Bravo Esmolfe após desavença familiar com o progenitor do seu progenitor. Acima de tudo, esta cisão deveu-se ao facto de, após anos a fio a aguardar o convite para ser sócio do seu avô, naquela que era, na altura, a fábrica das maças Rei, o Sr. Rei viu o convite ser entregue à sua irmã mais nova, sendo que ele sempre considerou esta decisão como uma tramóia da sua avó, que nunca lhe perdoou o facto de este sempre ter defendido que a maça deveria ser vermelha e não castanha esverdeada. Havia sido a sacana da velha, armada em decoradora a martelo, que havia escolhido a coloração da maçã Rei. Assim, o que poderia ser hoje a maça Reineto, é mundialmente conhecida como Reineta. O Sr. Rei jurou vingança e fundou a Bravo Esmolfe, utilizando o nome de solteira da esposa para baptizar o novo fruto, que segundo ele, seria um “maça de bolso”. Aqui fica óbvia a sua irritação para comigo após ter sabido da minha eloquente nega ao consumo do seu produto.</span><br /></p><br /><p style="TEXT-ALIGN: justify; LINE-HEIGHT: normal; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Felizmente para mim, qualquer pedido de punição à minha pessoa por parte da administração de condomínio tem que ser aprovada por unanimidade, que não foi obtida pois os proprietários do 3º esquerdo não possuem viatura automóvel, uma vez que a que tinham foi vendida a fim de conseguirem arregimentar dinheiro para pagar uma rinoplastia à filha, infeliz portadora da terrível doença do “nariz de papagaio”. Como o que nasce torto nunca se endireita, excepto o nariz, ela que no pré operatório era conhecida como a “Catatua”, viu uma vez mais o drma abater-lhe à porta. No pós-operatório deu-se uma destruição de hemácias no seu corpo, que levou à produção de bilirrubinas a partir da hemoglobina. Basicamente contraiu Icterícia e ficou com a pele mais amarela que o sorriso da sua mãe quando foi apanhada a chupar longos fios de esparguete, sem reviamente os enrolar no garfo, o que lhe valeu a alcunha de “Canária”. Actualmente é a minha colega de assadas de marshmallow pois tem esperança que o fumo do lume lhe dê outra tonalidade à pele, repetindo até à exaustão que prefere que lhe venham a chamar "corvo".</span></p>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-20144238504988771072010-12-27T14:25:00.000+00:002010-12-27T14:26:42.345+00:00A Tropa<p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">“A Sorte Protege os Audazes”, dizem os Comandos, ancorados na audácia de andarem sempre <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" /><st1:personname st="on" productid="em manadas Foxtrot Alfa"><st1:personname st="on" productid="em manadas Foxtrot">em manadas Foxtrot</st1:PersonName> Alfa</st1:PersonName> Cambio Over and Out, e armados até às pontas das tatuagens de G3’s e outras bijutarias como facas de mato e corta unhas, não vá uma unha de gel encravar a meio da selva de Monsanto e jogar pela lama toda a audácia da rapaziada. Há também aqueles que não descuram um bom aprovisionamento de graxa castanha, utilizada comummente pelos valentes loiros para disfarçarem esse evidente carimbo de pouco desenvolvimento intelectual. Esta medida é apoiada por muitos oficiais quando em combate, pois o inimigo tem sempre tendência a alvejar primeiro os morenos e deixar os loiros para o fim. É o que se chama “decapitar intelectualmente o inimigo”. A cor de graxa preferida é o Light Ash Brown. Apenas porque condiz com a farda. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Por audacioso entenda-se um corajoso, um valente, um temeroso, pelo que por vezes, ser audaz também implica uma interpretação sui generis do Dicionário da Língua portuguesa da Porto Editora, ou outro qualquer, se bem que eu prefira um qualquer outro pois o primeiro, tendo em conta ser do Porto, certamente vem dactilografado com os “B’s” e “V’s” trocados. Imagino que o que fez saltar a tampa ao Amílcar Cabral foi o “monstro colonizador” se ter referido ao país dele como “Cavo Berde”. Dizem as más linguas que, como vingança, o pobre do Amílcar sempre se referiu ao Salazar como o “Líder dos Homens Vrancos” e isso custou-lhe a vida em mais uma muito honrosa e honesta cilada montada pela PIDE. Era gente de grande aprumo e honradez, como daquela vez em que limparam o sarampo a 7 jovens arruaceiros que colocaram em causa a dita honra dos honrados, apenas porque não viram com bons olhos que a matilha pidesca escondesse cartas na manga durante uma jogatana de poker. Preocupados com os problemas de visão dos rapazes, os honrados puseram-nos num sítio onde não teriam que puxar muito pelas retinas, dentro de caixas de madeira de pinho, bem tratada e envernizada, com <st1:metricconverter st="on" productid="2 metros">2 metros</st1:metricconverter> da mais produtiva terra, onde anos mais tarde cresceram viçosas alfaces e abóboras dignas do Entroncamento. Diz-se ainda que o pavor do Sr. Amilcar à palavra “Berde” é que levou a que a sigla do seu partido terminasse no “C” e não no “V” como se impunha, pois esta refere-se a Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo…… Verde!!</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Estas e outras coisas vêm-me sempre à cabeça quando me lembro do dia em que me foram buscar a casa para me apresentar ao Serviço Militar. Refira-se que uma das “outras coisas” que me vêm à cabeça é a mão da minha imaculada esposa, que é rapariga pouco dada a nostalgias militares, visto ter perdido um ente querido durante a Guerra do Ultramar. Um tio dela, após uma noite bem regada a carrascão tinto, caiu do carro de bestas e aterrou com o nariz num porco-espinho. Ficou com pêlos a mais nas narinas e esvaiu-se de muco nasal. Foi morte imediata e se é verdade que isto se passou na Serra do Caldeirão, não é menos verdade que foi no Verão de 1970, quando em terras de Eusébio da Silva Ferreira o exército português colocava em marcha a Operação Nó Górdio nas planícies de Gungunhana. Para a minha excelsa esposa ficou como um Trauma de Guerra. Para mim como uma fonte inesgotável de belinhas na testa.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Bom, mas se há dia que eu não esqueço é aquela tarde em que eu estava a mudar a jante ao meu pneu do carrinho de mão quando a minha mãe me sussurrou baixinho “ÓOOOHHH TINO!!! Estão aqui 2 pessoas para falar contigo”. E estavam, eram o Minervino e o Tamagnini que mal me viram, afiambraram-me tal calduço no cachaço que me racharam a omoplata esquerda. De bónus ganhei 1 mês de cama e 2 gotas nos ouvidos de 3 em 3 horas, porque afeminei loucamente antes, durante e depois do grito de dor do osso a rachar e ainda hoje sinto um leve zumbido no ouvido. E para ser sincero, recordo melhor este dia do que aquele em que me fiz à estrada, a caminho da vida adulta, com uma trouxa às costas e dois trouxas camuflados de cara pintada e ramas de silvas no capacete a agarrarem-me pelos braços. Sei que eram silvas porque no percurso casa - unimog não foram poucas as vezes que temi que me tivessem vazado o olho.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Confesso que estava em falta com exército, não era por mal, apenas aborrecimento, mas já sabia que eles iam ser pouco compreensivos para comigo. Era gente pouco dada a sensibilidade e eu percebia, quando se toma muitas vezes banho nu junto a outros homens o mínimo deslize sentimental pode ser fetal e não, quando escrevo fetal não é erro dactilográfico, apenas serve para explicar que numa situação de deslize o pobre soldado raso pode vir a acordar no meio do balneário em posição fetal e sem forças para se levantar.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Por tudo isto não foi grande surpresa para mim quando dei por mim a correr pelo bosque a fora com 2 gorilas armados à ilharga, enquanto a minha mãe lhes dirigia impropérios num, diga-se de passagem, muito apurado calão. Lembro-me vagamente de ouvir 3 dardos tranquilizantes zunirem-me ao ouvido o Hino à Alegria de Beethoven, mas muito sinceramente, apanharam-me numa altura má. Recordo-me de achar patético o facto dos impropérios saídos da boca da minha mãe serem no singular quando os meus perseguidores eram dois, mas fez-se luz na minha cabeça quando ela me laçou à corda e me agarrou de cernelha. Eram dirigidos a mim. Apesar de ainda hoje ter a impressão digital do polegar direito dela cravado na minha maça de Adão, já lhe perdoei.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Levado para o quartel, logo me apresentei ao Sargento. Quando instado a falar logo me declarei “Opressor de Incontinência”. Eu já vos disse que tenho um certo grau de dislexia? Mas desta vez eles foram compreensivos comigo e alistaram-me no Pelotão Lima, fiquei a aguardar execução de pena por ter espirrado de frente para o Sargento sem colocar a mão na boca e mandaram-me juntar aos meus camaradas. Chegado à caserna meteram-me uma piaçaba nas mãos e fiquei de serviço à latrina. Pelotão Lima era o da limpeza. Felizmente no dia seguinte chegaram as novas máscaras químicas que foram bastante úteis para me proteger do sulfato de metano que já encarquilhava os meus pulmões e ameaçava destroçar-me o intestino delgado, que o grosso resistia hoje e sempre ao invasor.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Como a justiça pode tardar mas chega, 2 dias mais tarde fui informado da minha pena. Fui condenado a enfrentar um pelotão de fuzilamento que me bombardeou com bolas de naftalina, até porque lá na tropa nunca entenderam bem o porquê de eu dizer que estava “cá com uma traça”. O que podia ter sido uma pena de extrema violência, revelou-se para mim de grande beneplácito, pois graças a esta, pude concorrer para a Guarda do Presidente da República e cumpri o resto da minha comissão de serviço no Exército Português a trabalhar no guarda-fatos do Sr. General Ramalho Eanes a afastar traças da sua farda. Ainda hoje quando o vejo todo bem aprumado na televisão sinto que há algo de mim naquela goma.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal"><span style="font-family:arial;">Dizem que há duas coisas que marcam indelevelmente um homem: o primeiro golo que se vê ao vivo do Benfica e o Serviço Militar Obrigatório. Nada poderia ser mais verdadeiro e se há coisas que andam sempre na minha cabeça é o Vata a marcar um golo em Portimão e as traças que ainda hoje esticam o pernil à minha passagem. Pronto só aquelas que fumam, pois têm os pulmões mais fracos.</span></p>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-13890253915849541242010-12-22T17:01:00.003+00:002010-12-22T17:13:47.052+00:00O Telefone<p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">O ligeiro desentendimento conjugal já durava há tanto tempo que em anos caninos já deveria ser mais idoso que o avô do Fernando Pessa, e apesar de ainda só ter motivado dois internamentos hospitalares da minha parte por ingestão abusiva de trufas, que era o som que a minha mais que tudo fazia quando encostava docilmente o seu punho naquele espaço confinado entre o lábio superior e o nariz, vulgarmente denominado por bigodame, continuava a ensombrar a vida do nosso doce lar de paredes manchadas a negro pela humidade que penetrava incessantemente pelas telhas roídas pelos elementos e pelos membros inferiores do filho da minha vizinha que insistia em se preparar para torneios de basquetebol de mesa, correndo telhado acima, telhado abaixo. Fortalecia-lhe os gémeos dizia ele, enquanto eu aguardava que uma queda lhe enfraquecesse o seu jovem filho único que vivia aconchegado dentro das cuecas ali bem perto, na Rua do Baixo Ventre.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Tudo começara com a decisão de aprisionar a minha malfadada sogra num lar, a fim de me possibilitar acordar ao por do sol em dias de trabalho, o que não era possível com ela cá em casa, pois tinha o estranho hábito de convidar ex. colegas de escola para virem todos os dias jogar partidas de sueca enquanto se alambazavam do meu stock de tortas de chocolate e ananás. Quando foi colocada a hipótese de, em troca de momentos de paz, empenharmos algumas das poupanças que a velha arrecadara ao longo de anos de trabalho árduo a contar grãos de milho para encher pacotes de pipocas antes, durante e depois de sessões de cinema para maiores de 18 anos num tabernáculo sem janelas nem balcão, onde as bebidas eram servidas em cones de páginas amarelas e as moelas tinham sempre mais de 15 dias, fui colocado entre a espada e a parede. Nas palavras daquela com quem eu partilhara juras de amor eterno, se o caquéctico ser vivo fosse deslocado para o depósito dos iguais a si, a cadela de estimação ou roedor amestrado da minha mais que tudo teria direito a pernoitar no nosso leito de amor, bem entre os dois cônjuges. Chegados a esta situação terminal, qual grilo a quem é entregue a chave do cadeado da gaiola, que não consegue utilizar por não ser provido de polegares oponíveis, optei pela decisão que proporcionaria menor dano à minha, já se si enferrujada, qualidade de vida. E a caniche de espírito felino e unhas arrebitadas passou a babar a sua viscosa saliva na minha almofada e a forrar a pêlo encaracolado, se bem que sedoso, o interior das minhas narinas.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Infelizmente foi aqui que os reais problemas começaram, quando muito simpaticamente atiramos o andarilho da mulher para a porta do lar e elevamos os decibéis da voz para a convidar, muito cordialmente, a abandonar o nosso automóvel, ao mesmo tempo que lhe entregávamos 20,00 Euros para uma injecção letal, caso ela decidisse que seria esse o seu digno final. Perante a insistência da enfermeira de serviço, mulher de modos viris, que havia fugido à vida de pobreza e fome do Dubai para se alojar neste antro de riqueza e vastidão de recursos, verdadeiro apogeu da civilização moderno-quinhentista, fomos obrigados a deixar um número de telefone para que a progenitora da minha esposa nos pudesse contactar. Imbuído de espírito familiar e desejoso de manter contacto próximo com a execrável mulher, rabisquei um número falso no primeiro cartão que encontrei e entreguei à famigerada funcionária. Mais tarde, de regresso à paz do lar fui surpreendido por um telefonema que toldou para sempre os dias do nosso, já de si tumultuoso, ninho de ácaros. Aparentemente eu havia fornecido um número falso à enfermeira num cartão-de-visita meu, onde constava o verdadeiro número. E ainda mais aparentemente, os 20,00 Euros destinados a garantir um rápido sono eterno, haviam sido esbanjados em gomas por aquela que um dia havia inspirado a produção do Pac-Man.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Desde então, muito se tem discutido neste lar à beira da via rápida plantado a fim de alterarmos o número de telefone para acabarmos com os telefonemas que já duram há 3 anos, a convidar-nos para uma sacramental visita ao seu local de repouso. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">A vez que estive mais perto de convencer a minha amada a dar ouvidos aos meus argumentos foi quando consegui que a decisão ficasse dependente de um torneio de arrotos. Inicialmente vitorioso do mesmo torneio, já me encontrava a caminho de uma loja de conveniência da nossa operadora telefónica quando fui surpreendido pelo chamamento da minha cara-metade. Ela descobrira que eu havia ingerido uma lata de Coca-cola e uma botija de hélio antes da disputa, pelo que fui desclassificado por doping e tudo voltou à estaca zero.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Contudo agora os meus argumentos tomavam maior força. Ao fim de 3 anos as poupanças da idosa tinham esgotado, pois não eram tantas que pudessem suportar a mensalidade do lar e a minha muito prosélita vida boémia, de intermináveis noites regadas a meias de leite, quentinhos galões, ou, nos dias de maior fraqueza mental, saborosos sucos de goiaba dinamarquesa nas mais finas pastelarias dos arrabaldes da grande aldeia que é a minha marquise. Talvez a devesse ter colocado a trabalhar em vez de a condenar ao desterro. Há decisões que nos marcam a vida e esta, juntamente com outra anos antes em que, pensando que a rapariga estava em completo coma alcoólico, ou como dizia o barman, em falecimento alcoólico, pedira a filha da velha <?xml:namespace prefix = st1 ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" /><st1:personname productid="em casamento. Infelizmente" st="on">em casamento. Infelizmente</st1:personname> fui alvo de uma cabala e ela estava apenas a tentar ver se tinha alguma mensagem codificada escrita no interior das suas pálpebras. Ainda hoje insiste que tem lá algo escrito, justificando que são essas mensagens que lhe permitem ter diálogos nos seus sonhos.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Uma vez que a mensalidade tardava em dar entrada na generosa conta do lar, fomos contactados a anunciar a devolução do espécimen. Pediam-nos que fossemos recolher o que nos pertencia pois já se tinham dirigido à morada que havíamos deixado aquando da descarga do entulho, mas que lá não residia nenhum familiar da supra citada individua, o que me deixou perplexo, uma vez que a morada era da Penitenciária e era mau sinal não haver nenhum familiar da mulher lá encarcerado. </span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Basicamente isto queria dizer que a sua filha mais nova tinha sido libertada antes do final da sua pena de 25 anos a que havia sido condenada por roubo de uma peça de um puzzle de 55.000 peças, crime esse que se abateu sobre a nossa comunidade de tal forma que num apartamento contíguo a nossa casa, uma senhora, revoltada e revelando quase total perda de juízo, desenhara um bigode na cara do Presidente da Republica, que vinha estampada numa revista cor-de-rosa. Refira-se que a pena fora agravada pela circunstância de o acto ter sido perpetrado quando restavam menos de 13 peças para completar o quebra-cabeças, que, devido à ocultação da prova, continua inerte com 54999 peças, assente numa sepultura, sob a inscrição “Aqui o meu dono jaz. Tentou fazer-me mas agora não me faz”.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Esta informação encerrava em si boas e más noticia. A boa é que ficava feliz por finalmente, ao fim de 15 anos, ter sido provada a inocência da minha cunhada. A má é que eu havia sido testemunha de acusação, vital na sua condenação e ela havia prometido vingança dolorosa, que envolveria toda uma panóplia de objectos de corte com lâminas rombas para maior dificuldade de corte bem como quantidade industriais de xarope para a tosse e bacalhau à Braz, quando era retirada do tribunal presa num colete-de-forças. Em minha defesa tenho a dizer que o fato de treino que a irmã da minha princesa usava no dia do roubo era bastante parecido com o babygrou do bebé que, tal como mais tarde se veio a confirmar, perpetrou o sanguinolento crime.</span></p><p style="TEXT-ALIGN: justify; MARGIN: 0cm 0cm 0pt" class="MsoNormal" align="justify"><span style="font-family:arial;">Agora colocados perante estes novos pressupostos, a questão da mudança de número de telefone tornara-se pacifica. A questão que se levantava era a de mudar de morada, a bem da nossa saúde mental e da minha saúde física. As constantes gargalhadas que saiam da boca do meu amor de cada vez que eu puxava o assunto sugeriam-me que já só a minha saúde física poderia ser salva.</span></p>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-52925347102634848702010-12-22T16:45:00.001+00:002010-12-22T16:45:22.826+00:00A Fome<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Nas alturas em que me sinto completamente esquadrinhado pela fome, os meus olhos avistam sofregamente um autocarro e a imagem que transmitem ao cérebro é a de uma baguete com farripas de frango e rodelinhas de tomate, a escorrer molho de churrasco por todo o lado, que na realidade mais não é do que fumo decorrente do excessivo queimar de óleo da viatura, algo natural se for levado em conta que o transporte público tem ano de fabrico em 1967, apesar de ter sido comprado pela transportadora na Alemanha há apenas dois anos. A dor instala-se e é com pesar que sinto o meu intestino delgado entrar em rixas desnecessária com o estômago e com o esófago por ter o intestino grosso à perna a pedir conduto.<br />É por estas e por outras que me decidi a casar com alguém que fosse uma versão humanizada da Bimby, de preferência com upgrade para Dolce Gusto, pois uma cafezada depois de um pitéu agrada até à chinchila da minha cunhada que só come alface e alfalfa, mas nunca recusa um trago do néctar Campo-maiorense de preferência com um cheirinho de licor de lagarto chinês, especialmente se este for servido pelo senhor Fai Cheng, homem alto e magro de bigode farfalhudo e careca proeminente, nascido na Guiana Francesa mas leitor assíduo de Confúcio e Fernão Lopes, que muito novo emigrou para a Dinamarca, por engano, quando pretendia deslocar-se à Lapónia para entregar a sua carta de Natal aos duendes do patrono natalício. Durante a sua estadia no pais dos Vikings fundou uma fábrica de drakars onde todos os funcionários tinham como uniforme um disfarce de Vicki e apaixonou-se pela cultura sueca, sendo fervoroso amante do swing, mais a nível musical do que sexual, pois tendo ele feito um voto de castidade ainda no pais natal, sentia que lhe faltava algo para dar em troca numa situação de swing de carácter carnal. Foi ainda em terras de Sua Majestade Rainha Margarida II que se converteu ao absentismo, deixando de comparecer no local de trabalho sem aviso prévio e adoptando um nome russo, Faizulinenko Chengrinski, que rapidamente abreviou para Fai Cheng por não se recordar de como se escrevia e pronunciava o seu nome completo.<br />A minha saudosa mãezinha, que Deus tenha bem junto de si como tem todos os seus devotos e crentes, para compensar o facto de ela desde pequena ter nutrido uma inexplicável adoração por Satanás e pela Irmandade Illuminati ao ponto de ter tentado baptizar a minha irmã mais velha com o nome de Copernica, que foi automaticamente recusado pelo Registo Civil, livrando-se assim a mana Galileia de um nome ridículo, sempre me recomendou que escolhesse para contrair matrimónio uma freira pois dizia ela que as enclausuradas certamente tinham extraordinários dotes petiscais visto não haver noticia de Deus, a quem elas haviam prometido devoção eterna, alguma vez ter ido a um fast food amarfanhar um suculento hambúrguer ou uma mirrada fatia de pizza Primavera. A minha tia contrapunha que isso se devia ao facto do inventor de tudo não gostar de pepino nem anchovas, mas a minha saudosa mãezinha defendia a sua dama atirando à sorrelfa o argumento de que os doces conventuais gozavam de enorme fama, sendo que nenhum homem era capaz de fazer um trejeito de boca enquanto aplicava umas viris dentadas numa Barriga de Freira e não havia mulher que não soltasse um Suspiro de Braga enquanto esfacelava um Fidalguinho. Aqui o meu pai juntava as mãos e levava-as acima do seu boné da Robbialac e afirmava pleno de convicção que se havia coisa que o deixava fora de si era um Pito de Santa Luzia.<br />Quis o destino que eu me perdesse de amores por uma ateia agnóstica que me conquistou o coração com uma pratada de Canard à L’Orange confeccionado pela sua mãe, memórias ainda de uma comissão de serviço prestada por esta como mercenária durante a Guerra Civil no Congo Belga, onde ao serviço das tropas de Mobotu Sese Seko ajudou a derrubar o Governo de Moise Tshombe, trazendo na bagagem toda uma panóplia de receitas culinárias que durante muito tempo me deliciaram, até ao momento em que a velha me começou a ensaboar o juízo com a frequência e velocidade de um Alfa Pendular ao ponto de me ter obrigado a interna-la num lar com visitas periódicas bastante limitadas.<br />Para meu azar a minha excelsa esposa apenas herdou de sua mãe a vil capacidade de me atazanar o sistema nervoso, estrangulando-o até ele não respirar, desconfiando eu que os dotes culinários foram herdados pela minha cunhada visto o seu marido ser um badocha que tem a parte de baixo da cama coberta de tijolos de 15 para que esta não abata. Enquanto isso eu vou-me habituando a matar o bichinho da fome com bifes de vaca cuja substancia calórica e nutricional é a mesma de um pedaço de madeira de azinho a crepitar na lareira numa tarde de verão enquanto espera que lhe seja colocado em cima o assador para uma assadela de castanhas fora de época.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-43279856771115245192010-12-22T16:44:00.001+00:002010-12-22T16:44:37.001+00:00O Dia<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Começou-me mal o dia e quando assim é, só me resta esperar pelo pôr do sol para voltar a arrastar os costados até à cama e espojá-los nos ácaros que habitam os lençóis coçados e desbotados que me cobrem o colchão matrimonial.<br />Tudo começou ao acordar, momento em que fui surpreendido por dois despertadores tão sintonizados como aquelas miúdas, que, quais avestruzes aquáticas, afundam a cabeça na piscina e fazem figuras geométricas com as suas bem torneadas pernas, cuja utilidade só é comparável à dos tampos das jantes nos automóveis, pois exibem grande beleza visual mas se lá não estivessem o veiculo movia-se com a mesma eficácia, para além das energias que consomem a quem as tenta descolar para mudar a roda após um inoportuno furo durante uma noite de tempestade biblica. Como agravante, a minha fiel esposa, num assomo de stand-up comedy obtuso, esconso e com foros de surrealismo Monty Pytoniano esforçava os seus alvéolos pulmonares no banho numa triste tentativa de interpretar a “Nikita” do Elton John com a voz esganiçada e desafinada de um chimpanzé enquanto cata piolhos a outro ser da mesma espécie na copa de um Baobá na tropical savana africana.<br />Senti que a única forma de fugir à tormenta que se tinha abatido sobre a caravela a que chamo “minha vida” era virar à esquerda na primeira almofada e retirar-me estrategicamente para fora do quarto, qual Jesus que após oferecer a outra face à mão estalajadeira, sente a impotência de ter nascido com apenas duas bochechas e tenta evitar a palmada repressora de um qualquer José carpinteiro na nádega marcada pelo tampo da sanita onde horas antes esvaziara uma intoxicação alimentar derivada de uma sandes de presunto mal fumado, sem puxar o autoclismo.<br />A fim de me vestir, agarrei numa peúga e tentei calça-la. Debalde, senti um baque tal que pensei que o baço e o fígado tinham trocado de lugar como se estivessem a jogar alegremente ao elástico no recreio da escola primária, entre um gole de iogurte liquido e uma baforadela num cigarro de chocolate às escondidas. Ao retirar a peúga reparei que esta, devido à rigidez resultante de utilização ininterrupta ao longo das últimas duas semanas, me tinha esfolado o joanete. Como medida preventiva decidi-me a despir também as cuecas, às quais tanto me tinha afeiçoado no último mês pelos serviços tão competentemente prestados, por recear que estas pudessem agredir-me nas partes pudibundas cuja pele não está tão calejada e portanto mais frágil e sensível ao toque do que a dos membros inferiores, mais habituada ao contacto físico com a tijoleira Santa Catarina, aveludada pelos pêlos do caniche, da habitação de três assoalhadas que divido com a minha esposa, desde que ela aceitou ser minha consorte.<br />Batida com estrondo a porta de casa vi-me impossibilitado de utilizar o elevador pois a porteira havia sintonizado a aparelhagem que fornece a musica ambiente ao habitáculo móvel na Rádio Celtibera de cujo posto emissor zurravam as gaitas de foles dos “Viri & Athus”, banda originária do Huambo, mas radicada em Alcongosta e que defende a nacionalidade angolana do grande guerreiro Lusitano. Desprovido de todo e qualquer sentimento de índole sado masoquista, vi-me obrigado a alcançar o rés do chão através do vão de escadas do prédio, onde os interruptores eléctricos mais não serviam do que para reter impressões digitais e epiteliais daqueles que tentavam, sem sucesso iluminar os candeeiros que tão habilmente decoravam o tecto do fosso das escadas.<br />Em três penadas pus-me a caminho do café da Ti Marquinhas, onde tinha marcada uma entrevista de trabalho com Crisanto Filomeno, director-jornalista-gráfico-ardina do jornal “Voz de Vós”, que me queria oferecer metade de um ordenado mínimo do Botswana para eu tomar as rédeas do Jornal bem como ficar responsável pela coluna “A Cozinha e os Detergentes da Loiça”, tendo a meu cargo a detecção de todo e qualquer furo jornalístico dentro do nicho de mercado que são os detergentes domésticos, com particular incidência aos utilizados nos lava loiças e máquinas de lavar loiça do país. Seria igualmente responsável pela redacção na ausência de Crisanto, o que iria suceder já a partir desse momento pois ele preparava-se para emigrar para as Ilhas Tonga onde iria trabalhar como jardineiro no parlamento local, bem como por toda a parte gráfica, de edição e distribuição deste semanário trimestral que saíra para as bancas uma vez nos último sete anos.<br />A verdade é que toda a eloquência que ele revelara ao telefone e que me havia convencido a aceitar o emprego se esvaiu quando entrei no salão do café e ouvi um sonoro arroto de creme de cebolada ecoar da mesa onde Crisanto me aguardava vestido só com umas ceroulas rotas junto ao joelho esquerdo e um cachecol de lantejoulas a tapar-lhe os mamilos, que, saltava à vista, não seria dele mas talvez de sua esposa, pois esta jazia deitada de bruços no chão, despida da cintura para cima, apenas com uma garrafa de Palinka na mão. Naquele momento decidi que este ainda não seria o emprego para mim e que o melhor era dirigir-me a outro estabelecimento de restauração, pedir uma mini e um pratinho de tremoços e aguardar que o dia passasse, porque realmente a coisa não estava a correr nada bem.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-75893362889114399822010-12-22T16:43:00.001+00:002010-12-22T16:43:33.381+00:00O Puto<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Ya, do se bem, alte fixe bacaninho e coiso e tal...cada vez entendo menos o filho dos meus vizinhos do 4º andar. O arremelgado do catraio não atina três letras sem fazer da língua portuguesa uma mulher de 80 anos com botox no nariz, ou seja, uma coisa tremendamente feia e a precisar de papel mata borrão ou de uma dispensa escura.<br />Quem o vê agora tem que encontrar semelhanças extremas com uma catatua dos confins da selva Amazónica, mais para o lado guarani que charrua, que é como quem diz mais Paraguaio que Uruguaio. Aliás a forma como ele desintegra o dicionário português só é comparável a um nativo do Brasil sertanejo a tentar esmiuçar o sistema informático de um aparelho de ar condicionado debaixo de uma soalheira tórrida de 45 graus, tendo ao seu lado um guarda sol aberto mas que se recusa a utilizar.<br />É nestes momentos que a lógica não passa de um contentor do lixo a arder numa rua de Atenas ou de Paris durante um tumulto estudantil, tendo estampado um autocolante que diz “Cocktail Molotov Mata”, numa clara alusão às quiló-calorias presentes numa fatia do famoso doce esponjoso e peganhento e que só perde em número de fãs para o terrivelmente manhoso doce da casa, pois ninguém resiste a tentar saber a marca da bolacha que está no fundo da taça e como diz o ditado popular “a curiosidade matou a fome”, mesmo sabendo que qualquer gato gostaria de ter um ditado popular só para si.<br />Pior do que presenciar a coisa é começar a reconhecer-lhe tanto dejá-vu que pensamos que das duas uma: ou estamos a ficar loucos ou então molhar camarão tigre em leite com chocolate é algo tão natural como atirarmo-nos de um arranha-céus e cairmos de cara no chão, só porque temos manteiga no canto da boca, porque não há física que consiga contrariar a Lei de Murphy.<br />O lado triste deste filme de produção manhosó-nacional é ver que a recuperação do jovem está seriamente comprometida por obra e graça do macho progenitor, verdadeiro pintas da cena alfacinha, saído directamente de um qualquer bas-fond oitentista em cujo escuro espaço regurgitou pelo nariz, durante anos, o fumo impregnado de nicotina que exalava pela boca, na esperança de que o seu farfalhudo bigode filtrasse as toxinas que anos mais tarde lhe causaram graves problemas bronco-respiratórios, pois produz tanto ruído no processo de inspiração/expiração que é uma bronca conseguir dormir no raio do prédio ao mesmo tempo que o homo de neerdental do 4º andar deita a careca coçada na fronha encardida da almofada.<br />Este exemplar acabado da estupidez pós revolucionária que trata a esposa por Delfina apesar de estar casado há mais de 30 anos com ela e no acto do matrimónio ter aceitado casar com a sra. Josefina Magalhães, afinal de contas verdadeiro nome da infeliz consumidora crónica de barbitúricos, é um fã incondicional das conversas apatetadas da cria de ambos, exibindo o cacarejar do pirralho aos amigos como quem exibe uma aguardente melosa de Monchique a três jovens que apenas tentam fazer o seu trabalho.</span></div><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">A minha insistência para que as visitas desta dupla de três múmias sejam cada vez mais esporádicas esbarra sempre no bestial ensopado de borrego que a minha esposa insiste em oferecer antes das reuniões de condomínio, ás quais por incrível que possa parecer, todos os habitantes deste prédio outrora devoluto comparecem em massa, fazendo do nosso humilde lar um autêntico centro de congressos, ao qual só falta a disposição do set up em teatro ou cabaret, apesar das longas pernas e curtas minisaias da vizinha do 1º andar darem um certo ar de cabaret ao ajuntamento.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-14287512493142284802010-12-22T16:42:00.001+00:002010-12-22T16:42:51.220+00:00O Judeu<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">“Ich Tino num tá cheirando bein aqui não”... foi com estas singelas palavras que Carciano me informou que havia gaseado novamente a atmosfera com sulfato de feijão com arroz de 3 dias, re-aquecido na fogueira que flamejava lá embaixo no bidão junto à betoneira. Dito isto no topo de um andaime que dá para o 23º andar de um prédio em construção, onde não há escapatória possível, só me resta esperar que o anticiclone estacionado a meio do Atlântico se dirija para junto de nós e leve o metano expelido pelos intestinos brasileiros sentados a meu lado para bem longe, antes que danifique o reboco acabado de chapar no tijolo virgem.<br />Embrenhado neste caos olfactivo de índole flatuleica, esqueci-me de ir recolher o saco com a roupa interior da minha sogra que a minha excelsa esposa havia deixado na lavandaria do sr. Itzhak Stern, há cerca de 3 semanas para limpar os ácaros incrustados por utilização abusiva do mesmo vestuário.<br />Quando me decidi a descer até solo firme e ir ao encontro do “judeu” como pomposamente era chamado o sr. Stern por todos os seus vizinhos de extrema direita, já passava das 17h00, pelo que foi sem colocar o capacete, cotoveleiras e joelheiras que me sentei no meu monociclo e pedalei desenfreadamente estrada molhada abaixo. Não fora uma pequena barricada de pneus a arder, colocada no meio da estrada pelo grupo pacifista “Recém Mamãs Zen” e não teria sido obrigado a pedir o estojo de primeiros socorros assim que cheguei à lavandaria, para desinfectar as feridas que pululavam as minhas articulações superiores e inferiores. Na cabeça estava ileso, pois pelos vistos dar à luz afecta a capacidade motora de acertar com pedras em alvos em movimento.<br />Quando pedi a minha encomenda fui surpreendido com a informação de que a roupa não havia sido lavada e que naquela lavandaria nunca o seria, pois tratavam-se de vestimentas indignas para uma senhora. Nesta altura convém referir que a imponente figura que se prostrava à minha frente era um indivíduo nascido há 82 anos como Wolfgang Schneitz numa Clinica de Abortos de Nuremberga, tendo logo ali originado uma queixa no Livro de Reclamações por parte da mãe-que-não-queria-ser e havia pertencido às SS Nazis, tendo sido destacado para o Campo de Concentração de Birkenau. Com o final da Guerra converteu-se ao islamismo e refugiou-se na Palestina, de onde lançava amiúde ataques terroristas contra oficinas de carpintaria luzemburguesas em Haifa. No último desses ataques vestiu-se de coelhinho da Páscoa e dirigiu-se a uma loja de frutas tropicais, na esperança que alguém lhe apertasse o pompom que camuflava o rabo do coelho e despoletasse o engenho explosivo que trazia à cintura. O aperto chegou pela mão de um jovem moreno de 54 anos, mas a única explosão que se deu foi a do amor. Rapidamente se converteu ao judaismo e ao homossexualismo, emigrando então para Lisboa e estabelecendo-se no Martim Moniz, como profissional da lavagem de vestuário a seco ou molhado, não perdendo no entanto o seu espirito conservador, o mesmo que o impedia de aceitar trabalhos que chocassem com a sua vertente mais púdica.<br />Da minha parte fui obrigado a aceitar a renitência do “judeu” para com as roupas que estavam dentro do saco, especialmente no wonderbra e na cueca fio dental de tamanho avassalador, suficiente para a Inquisição enforcar 3 hereges e ainda atar ao poste da fogueira mais 2 bruxas. As meias de ligas estavam laças o que denotava uma utilização assustadoramente habitual, para uma senhora de 98 anos internada num Lar. Num ápice coloquei tudo dentro do saco e disse para o meu interlocutor incinerar aquilo tudo. O brilhozinho nos seus olhos ao ouvir a palavra “incinerar” mostrou que ainda havia algo de nazi naquele judeu.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-16852547340345378802010-12-22T16:41:00.000+00:002010-12-22T16:42:01.014+00:00A Memória<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Ah catano, ele há coisa que um tipo nunca mais esquece, outras pelo contrário nunca mais nos lembramos e desaparecem da memória como pílulas do dia seguinte por alturas de Semana Académica..<br />Até parece que foi ontem que fui atingido pelas ondas de choque emitidas pela minha mãe lá da varanda onde pendurava as ceroulas do meu velho na corda para evaporarem as humidades e cheiros de uma lavagem com água e sabão azul: “ahh bicho dum camano. ‘Stantino, vai-te-me masé à loja dos cabedais comprar uma coleira pró raistaparta do gato da tua irmã que ele já se me foi às nêsperas outra vez”, pigarreou ela. Sem pensar duas vezes lá me dirigi à loja onde o ti’ Marques Choco, entre umas valentes goladas de aguardente de medronho caseira feita à base de coirato fumado, inspirava diariamente cheiro a bedum e sebo, que aplicava cuidadosamente nas botas de cabedal enquanto a sua mente divagava pelas coxas da senhora Erminia, cujo marido havia falecido 5 anos antes, após uma reacção alérgica a um tremoço, enquanto ouvia o relato de um jogo de 3 em Linha na telefonia, segundo conta a viúva. Quando saltei o portão emperrado de ferrugem do nosso minúsculo latifúndio onde a erva daninha se desenvolvia como míldio nas batatas, estes pensamentos emaranhavam-se na minha cabeça com a chave do Totobola onde me inclinava para apostar numa tripla 1X2 para o jogo em que o Aberystwyth recebia no seu estádio o Caernarfon na 20ª jornada do Campeonato Galês.<br />Ao aproximar-me do edifício onde o ti’ Marques Choco tinha estabelecido o seu meio de subsistência dei de caras com um cenário algo estranho, aliás, completamente surrealista, pois um grande cartaz exposto na galera de um camião Tir anunciava uma exposição com pinturas de Salvador Dali e René Margritte a decorrer nas carrinhas cor de tijolo da Biblioteca Itinerante, portanto só acessível a quem tivesse cartão de sócio das Bibliotecas Calouste Gulbenkian. Na rua uma sonora manifestação juntava de um lado da barricada a ILGA e a Sociedade Portuguesa de Sado-Masoquismo e do outro a Liga Portuguesa dos Animais, cujos elementos tapavam as vergonhas com alfaces e papo-secos, enquanto vociferavam palavras de ordem contra o uso de peles na produção das vestes de Drag Queens e de roupas bondage. À porta do seu estabelecimento comercial ti Marques Choco não poupava nos apupos aos “alfaces”, acusando-os de serem maus para o negócio, o que lhe viria a custar mais tarde duas vitrinas estilhaçadas no pavimento de calçada típica portuguesa e umas calças de cabedal, roubadas por um dos defensores dos animais, após ter perdido a sua alface numa acesa disputa com uma chinchila fugida de sua dona e esfomeada.O espanto perante tal cenário foi tal que a minha memória bloqueou, pelo que se me varreu da ideia o propósito da minha visita aquele local e regressei a casa sem a famigerada coleira para gatos que me havia pedido a minha mãe. Na altura não me pareceu um esquecimento grave e revelava-se bastante útil para mim, pois com o gato à solta podia continuar a devorar a meu bel prazer a nêsperas que povoavam a única árvore do quintal, cuja copa esvoaçava bem junto à janela do meu quarto, com a mesma densidade populacional de Shangai.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-22159825707345231702010-12-22T16:39:00.000+00:002010-12-22T16:40:07.460+00:00As Perguntas<div class="post-body entry-content"><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta</span> – Mas porque raio é que há pessoas que mandam tantos perdigotos quando estão a falar que os seus interlocutores pensam que estão na selva Amazónica em dia de tempestade tropical?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta </span>– Bom esse fenómeno é originado por outro que se denomina “Ciclo Hidrológico ou da Água”. Quando está muito calor a água evapora, quando a temperatura baixa a água liquidifica. Assim uma pessoa quando está com febre evapora água na boca e quando baixa a temperatura corporal assiste-se à liquidificação da água e ao chamado “perdigoto”. Portanto nunca se deve falar com uma pessoa que tenha estado com febre há menos de 3 semanas, a não ser que se leve um fato de oleado e óculos de mergulho.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta</span> – Porque é que as senhoras quando põem a roupa a lavar a separam por cores assim mais ou menos como se estivessem a jogar ao Quatro em Linha?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta </span>– É um engano. A roupa não é separada por cores mas sim por “locais”. Quando se põe a máquina a lavar deve-se ter o cuidado de juntar peças de roupa que sejam utilizadas em locais do corpo com a mesma propensão para se sujarem. Assim no Verão devem-se pôr as peúgas que estiveram nos pés a lavar juntamente com a t-shirt que tocou os sovacos. De Inverno o acompanhamento das peúgas devem ser as calçar, pois estas podem ter tocado lama. Em ambas as temporadas a cuecas e boxers devem ser lavadas à parte pois têm um nivel de propensão à sujidade bastante mais elevado que todas as outras peças de roupa. De qualquer forma deve-se ter o cuidado de não misturar cores dentro do tambor da máquina a fim de evitar tingimentos. É por isso que tenho umas peúgas cor de rosa, para poder lava-las juntamente com as calças no Inverno.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta</span> – Se os jogadores que rematam com o pé direito são destros e os que utilizam o pé esquerdo são canhotos, porque é que os que usam os dois pés de igual forma dão ambidestros e não ambicanhotos?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta </span>– Um jogador que utiliza os dois pés com a mesma eficiência não é ambidestro, é destronhoto. Ambidestro é um jogador que nasce com uma doença congénita que dá origem a que na extremidade inferior de ambas as pernas cresçam pés direitos, ou seja, com o dedo grande do lado esquerdo. Ainda não é conhecida cura para esta doença, mas normalmente resolve-se este problema com amputação do pé da perna esquerda e utilização de prótese. Diversos jogadores do Sporting sofrem deste drama. Ambicanhoto não existe meu palerma.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta </span>– O que é a Teoria da Relatividade descoberta pelo descabelado e abandalhado cientista Albert Einstein?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta</span> – Bom como o próprio nome indica, a Teoria da Relatividade é muito relativa, muito subjectiva. Esta prova que tudo na vida tem várias interpretações, é tudo muito relativo. Por exemplo a minha cara metade adora a minha sogra, eu pelo contrário atinjo o topo dos meus níveis de felicidade assim que ela volta para o retiro obrigatório do Lar. Por outro lado todo o Mundo pensa que o Einstein era um despenteado crónico mas ele sempre achou que fazia grande sucesso entre as senhoras por ser adepto do desgrenhamento capilar.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta</span> – Porque é que o nosso cabelo nunca pára de crescer sendo que ás vezes de tão grande no humilha por parecermos palmeiras?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta</span> – O nosso cabelo é um veiculo de contacto social, é o que faz do Ser Humano um animal social, obrigando-nos a ir onde mais e melhor se contacta com as pessoas, onde há verdadieras discussões e onde se tratam temas importantes para a evolução da Sociedade, ao Barbeiro. Este hábito vem do tempo dos Gregos que foram o primeiro povo a dirigir-se ao barbeiro para cortar o cabelo e discutir os temas do dia a dia. Em Grego Antigo barbeiro diz-se “Acrópole”.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta </span>– Existem extra terrestres noutros planetas ou isso não passa de invenção dos Humanos que já não têm mais nenhum animal para domesticar?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta</span> – Sem dúvida que existem extra terrestres e todos eles são extremamente inteligentes. A maior prova de que há seres inteligentes noutros planetas é que eles nunca tentaram estabelecer contacto connosco e os relatos de pessoas que dizem que viram OVNIS só afastam cada vez mais todo e qualquer resquicio de vontade que os extra terrestes poderiam ter de contactar connosco.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Pergunta</span> – Porque é que tenho que ser sempre eu a pôr e levantar a mesa quando está tanta gente cá em casa?</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial"><span style="FONT-WEIGHT: bold">Resposta </span>– Porque és o mais pequeno, estás em processo de aprendizagem, tens que treinar estes pequenos aspectos da vida para quando fores mais velho os fazeres com total destreza e porque a tua tia me está a pedir a mim para o fazer e eu te estou a mandar a ti porque não me apetece levantar do sofá. Pisga-te, fecha a porta da sala e desliga a luz.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">É por estas e por outras que me chateia que o meu sobrinho venha cá a casa. O miúdo sofre de uma estirpe de ignorância nunca antes estudada que chega a atingir niveis quase psicanaliticos, bombardeando-me com perguntas complexas mas que são pêra doce para um adulto como eu. Só me chateia é que os meus cunhados não ensinem nada ao catraio, obrigando-me a fazer uma pausa no meu Puzzle Bubble para elucidar o raio do puto de todas as suas dúvidas existenciais. Se não fosse eu certamente que o miúdo neste momento apenas tinha o conhecimento cientifico de um peixe.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-78513530819774568952010-12-22T16:38:00.001+00:002010-12-22T16:38:49.165+00:00Os Guerrilheiros<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Atingiu-me como uma seringa da vacina BCG espetada na veia por uma antiga enfermeira do Hospital Júlio de Matos, e tirou-me a modorra instalada no meu corpo que jazia deitado no sofá onde eu fazia nada, algo que, modéstia à parte, executo com indesmentível qualidade. Pedro e Inês haviam sido capturados e a cara do rapaz, com cicatrizes de uma varicela mal curada aparecia escarrapachada no meu plasma, tapando o nariz à entrada do Tribunal.<br />Pedro e Inês haviam sido meus colegas de escola. Mais tarde casaram-se, formando um casal pouco menos que perfeitos, sendo que às vezes até se beijavam chegando inclusive a serem vistos de mão dada na rua, numa noite de lua em quarto minguante. Curiosamente, tal como na famosa lenda, viriam a separar-se devido à Realeza, numa discussão durante um jogo de sueca, em que a rapariga afirmou a pés juntos que a Dama valia mais que o Valete ao que o rapaz ripostou que nunca a Rainha teria mais poder que o Príncipe terminando a discussão com uma acusação de machismo contra o jovem a quem a razão acudia.<br />A reunificação fez-se passado 5 anos, quando o espírito revolucionário já invadira as mentes dos pombinhos e juntos formaram o P.I.L.A., Partido Independente de Libertação de Almancil, famoso pelas suas acções de guerrilha, atacando instituições com ligações à Câmara Municipal de Loulé pintando-lhes motivos de Natal nas janelas dos edifícios e veículos bem como por uma sucessão de raptos de plantas e respectivos vasos que se encontravam espalhados pela vila, numa tentativa de atingir o poder Camarário onde mais lhe doía, o Departamento de Jardinagem e Espaços Verdes, escondendo-se após os ataques nas matas verdejantes de silvas, pinheiros e estrume do Centro Hípico do Corgo da Zorra. Após o desmantelamento da Organização Terrorista foi tornado público todo um sistema de túneis camuflados por diversos montes de gravilha deixados para trás pela Junta Autónoma das Estradas nos anos 90 aquando da reabilitação da Estrada Nacional 245 que liga Almancil aos aldeamentos turísticos circundantes.<br />Durante anos o Exército combateu Pedro, Inês e sua Quadrilha com Pombos Dejectores, formados na Baixa Pombalina, onde entre outras coisas tinham desenvolvido uma capacidade quase inata para lançar dejectos a grande altura em cima de viaturas automóveis, dilacerando-lhes o esmalte da pintura e deixando marcas irreversíveis no meio de transporte. Esta técnica foi utilizada na tentativa de localização dos meus antigos colegas a fim de lhes marcar os carros para serem mais facilmente identificados. Isto motivou que os Bandoleiros tivessem que andar com um pano de camurça no coldre e fossem lestos na limpeza dos seus automóveis a fim de não serem descobertos.<br />Infelizmente para eles, foi colocado na sua peugada o General Pardal, que se gabava de ter cumprido 2 comissões no estrangeiro ao serviço da ONU mas na realidade tinha estado além fronteiras ao serviço da operadora de Internet ONI. Com ou sem formação militar, teve o mérito de encurralar os foras da lei no seu esconderijo e quando gritou no seu megafone “Rebenta a Bolha” já não havia escapatória possível para os foragidos e estes cumpriram os preceitos da rendição, saindo dos túneis empunhando uma bandeira aos quadrados pretos e brancos.<br />Toda esta história foi contada em directo pelo pivô do telejornal, mas quando terminou já eu estava ferrado no sono novamente, depois de ter saciado o estômago com um batido de tomate e cenoura, pelo que só ouvi metade da epopeia.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-34180350229896782472010-12-22T16:37:00.001+00:002010-12-22T16:37:42.105+00:00O Vinho<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Deixei-me dormir no sofá enquanto descascava um saco de asas do Modelo cheio de favas e ervilhas, à espera que deixasse de chuviscar na televisão e voltasse a emissão regular, que havia sido interrompida durante a transmissão do documentário “Os Pernetas e a Podologia, ou a vã esperança de criar bolhas nos pés” que contava com o lancinante testemunho de Virgílio Cepeda, barbeiro uni sexo de profissão e podologista nos tempos livres por influência do pai, campino na zona de Alcoutim, que o ensinara a mudar as ferraduras aos cavalos.<br />Este súbito baque de sono fez com que me esquecesse de programar o alarme para acordar no dia seguinte, para o qual eu tinha reservado a manhã para ajudar a fazer vinho, o sangue de Cristo, na adega do Ti Lopes, repetindo assim uma tradição que muito me aborrecia. Apesar do tardio despertar, rapidamente me pus a caminho da adega, que fica relativamente perto do meu lar, pelo que fiz o caminho a pé, não demorando mais do que 2 horas de caminho.<br />Ao chegar à porta do barracão onde se pisava o fruto da videira, descortinei através das lentes dos meus óculos, cravadas de mosquitos qual pára brisas de autocarro de 55 lugares na A1, uma rapariga roliça, bem arregimentada de barriga, apesar dar evidentes carências dentárias e de pernas tingidas de azul que ocupava o meu local no cordão humano que transformava em néctar dos deuses os berlindes da natureza, ao ritmo de Bob Marley, aproveitando o típico movimentar de pernas da dança reggae para massacrar a fruta.<br />De ar já meio grogue e de passada desconexa aquando do meu primeiro olhar, foi sem surpresa que a vi sucumbir, passados alguns minutos, ao álcool que se libertava do mosto em direcção à atmosfera. Caindo desamparada no que outrora decorara as vinhas, por pouco não se afogou, sendo o seu peso um óbice ao salvamento sendo necessário recorrer ao egrégio método da roldana para elevar o peso morto da substância que iria, mais tarde, animar jantaradas e almoçaradas pelo bairro fora. Uma vez fora do lagar, permaneceu durante largos minutos inconsciente enquanto os restantes presentes discutiam, acerca de quem iria fazer respiração boca a boca, retraindo-se todos perante a cara azulada, atacada pela cárie dentária e com grainhas a sobressaírem dos cantos dos lábios. Felizmente nem uma pessoa inconsciente consegue aguentar o cheiro libertado pelos cigarros de barbas de milho, baforados pelo senhor Domingos da Chafarrica e a rapariga deu sinal de vida, menos vivaça que dantes, mas com o sistema respiratório em funcionamento.<br />Recuperado o meu lugar de direito, fiz-me ao lagar com tamanha fuçanguice que levei 2 minutos a reparar que me encontrava a pisar o alguidar onde jaziam as batatas cozidas que iriam ser servidas ao almoço. Como na natureza nada se perde e tudo se transforma, dona Irina aproveitou o puré, destilou-o no alambique e de lá fez vodka para aquecer as noites em que o seu Manuel teria que ficar a trabalhar até mais tarde na taberna do casal, privando-a assim de companhia ao adormecer.<br />Entretanto lá fora o tempo encrespava-se, largando sobre o barracão tamanho aguaceiro que logo deixou a descoberto a falha no telhado de lusalite que pingava justamente no local de onde esperávamos que fosse erigida uma pinga que nos animasse as noites e os dias. O sucessivo pinga pinga tornou o que seria um Vintage de 18 graus num palhete de fraca qualidade, mais capaz de servir para refogado que para ser servido à mesa. Isto comprovamos nós num faustoso repasto, depois de lavarmos o corpo com pedra-pomes, única forma de descolorir a pele e esbater o cheiro da uva que se havia entranhado pelos poros.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-53184182539567535242010-12-22T16:36:00.001+00:002010-12-22T16:36:53.377+00:00O Casamento<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Molhei a peúga. É certo que tive uma noite muito mal dormida resultado de um corte de cabelo caseiro, com a camisola do pijama vestida, na qual se alojaram agulhas que outrora haviam sido afiadas diariamente pelo meu pente e que me picotaram o pescoço durante toda a noite, mas nada desculpa a minha falta de pontaria matinal, falhando o recipiente para a descarga de ácido úrico, numa função que até o caniche da esposa já executa sem problemas. Era difícil começar pior um dia que já não augurava nada de bom, era o dia do casamento do casal em cuja casa a minha mais que tudo fazia as limpezas e areava os latões.<br />Casal já em fase final de vida, Gregório e Domingas haviam-se conhecido no Ultramar, mais especificamente no Planalto do Bié, onde o futuro esposo era limpa neves desempregado e sua cônjuge era cantora, sendo que só exercitava a voz na gravação de mensagens para atendedores de chamadas. Após a Revolução regressaram à Metrópole onde viriam a enriquecer gravando toques polifónicos para telemóveis atingindo finalmente a independência financeira que lhes permitiria o feliz desenlace.<br />Á entrada da Igreja lá se encontrava o costumeiro vendedor de cachorros, apregoando uma sopa de cogumelos acabada de fazer ao que eu escolhi um Combi de pipocas com molho de peixe tailandês e um copo de tinto da Bairrada, o sangue de Cristo. Uma vez lá dentro ainda me arrependi da minha escolha, afinal por entre os bancos andava um indivíduo a vender pacotinhos de hóstias, simples, com chocolate ou com doce de laranja. Ainda fui a tempo de provar este doce conventual, pois o pobre indivíduo tinha uma estrutura tal que me fez acreditar que passava os dias a experimentar o sabor do que vendia, movimentando-se com grande dificuldade pela Igreja lotada e dando-me tempo para terminar o milho frito.<br />Presumo que o casamento não foi um sucesso, pelo menos não teve ovação de pé. A coisa começou logo mal, pois por um qualquer engano o padre contratado era um Rabi israelita cujo único som que abandonava as suas cordas vocais de forma a ser perceptível ao comum português era um muito arranhado “muito bem”. A verdade é que só no dia anterior à cerimónia é que os noivos deram conta da gaffe, pelo que o casamento saiu em playback, com as palavras a serem projectadas do leitor de CD para as colunas da Catedral enquanto que o Rabi Isaac movia os lábios numa mímica muito chaplinesca à qual só faltava o guarda chuva. O logro só foi topado pelos que ocupavam as cadeiras da frente, que logo ali soltaram uma leve demonstração de desagrado, que viria a aumentar quando os presentes foram informados que por motivos profissionais o noivo não iria comparecer ao casamento, pelo que em seu lugar estava um televisor LCD onde era transmitida uma filmagem caseira onde Gregório seguia todos os passos até ao “sim” final. Por obra e graça do destino, o DVD encravou logo na altura da palavra afirmativa, talvez devido a alguma poeira desmancha-prazeres. Este infeliz acontecimento marcou o final da cerimónia com os espectadores a partirem em debandada rumo ao Estádio Municipal, onde a agremiação local disputava jogo decisivo para a permanência na 2ª divisão distrital. Para mim foi tempo de regressar ao lar, que ainda tinha umas caleiras para limpar antes que chegassem as primeiras chuvas de Setembro.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-52124978592624839052010-12-22T16:35:00.002+00:002010-12-22T16:36:10.810+00:00O Festival<div class="post-body entry-content"><div style="TEXT-ALIGN: justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">E de súbito tive uma visão. O momento era deveras propicio, tinha acabado de assentar os meus óculos no nariz, única forma de passar por cima do astigmatismo que me turva a visão de longo alcance, não me permitindo, entre outras coisas, decifrar a matricula do carro que passa por mim a alta velocidade e me esguicha água lamacenta de uma poça de dia de tempestade para a camisa branca antes de uma entrevista de emprego. Neste caso através dos fundos de garrafa fiquei a saber que a banda El Dueto de Tres, verdadeiros ícones da musica popular peruana, artistas da flauta de beiços em cana de bambú e presença habitual numa qualquer rua das lojas do nosso pais, se ia apresentar em palco no Festival Internacional de Pesca do Pato, em Alcongosta. Este era o momento que eu sempre esperei.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">Feita a barba e colocados os respectivos pedacinhos de papel higiénico nos cortes originados pela pressa e por uma lâmina romba com 3 semanas de utilização, preparei o farnel com 2 sandes de paio e uma lata de dobrada de feijão, não sem antes acomodar o bucho com 1 paposseco recheado de mortadela e regado com leitinho com mel, seguido do qual me fiz à terra batida.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">A caminho, entre uma mudança de pneu e uma paragem para arrefecer o motor, ainda me lembrei de que não tinha aberto a porta da nossa minúscula dispensa para deixar o caniche ir fazer as necessidades à rua, o que normalmente significava cheiro a Ria em hora de maré baixa para o resto da semana, mas nesta altura já não ousava voltar para trás e correr o perigo de ver o meu carro cuspir o seu último trago de dióxido de carbono para a atmosfera antes de eu conseguir vislumbrar o nariz torto de Paco Bilha esse ícone da música.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">Paco Bilha era unânimemente reconhecido como o cérebro do grupo, apesar de as frequente entrevistas concedidas pelos três magos da música nos fazerem pensar que eles dividiam o mesmo cérebro, entre todos. Nascido nos confins dos Andes, Paco era sem dúvida o melhor tocador de pífaro do Mundo, beneficiando do facto de não ter dentes à frente o que lhe permitia ter um encaixe perfeito para o bocal do instrumento e conferir ao som um vibrato único e bastante apreciado por todos os descendentes dos Incas. </span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">Martin Del Cano, por sua vez assumia-se como o elemento mais discreto do grupo, parecendo por vezes até invisível, fruto do facto de ser anão o que fazia com que as pessoas tivessem grandes dificuldades em vê-lo manejar a concertina caso estivessem um pouco mais distantes do palco.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">O terceiro elemento do dueto era porventura o mais peculiar. Juanito Talento, na realidade possuía poucas doses do mesmo, devendo o seu nome a herança familiar, do lado paterno. </span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">Desde cedo que Juanito revelou queda para a música o que lhe valeu 3 dias de internamento no Hospital de S. Maria após ter caído de um palco, onde actuava José Malhoa e a sua pequena filha. Juanito na verdade é português, tendo emigrado a salto para Espanha nos anos 60, onde aprendeu a tocar castanholas, apesar de ser maneta pois tinha sido vitima de um atentado da ETA, vendo uma bomba escondida numa alheira de Mirandela explodir-lhe na mão num talho em Oviedo. Mais tarde ainda concorreu aos Ídolos, mas uma apoplexia no momento do casting retirou-lhe a hipóteses de actuar no Tivoli e, quem sabe, gravar um cd.</span><br /><span style="FONT-FAMILY: arial">Todos estes factos se revelaram impossíveis de confirmar, pois o meu desconhecimento do caminho para Alcongosta levou a que, volta e meia, me tenha visto rodeado de neve e pessoas com um sotaque estranho e algo parecido a ursos de peluche na cabeça. Inicialmente ainda pensei que havia regressado a Almancil, mas afinal estava em plena Praça Vermelha, no coração de Moscovo.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-34071196889865048942010-12-22T16:35:00.001+00:002010-12-22T16:35:19.561+00:00O Vizinho<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Sempre defendi a boa vizinhança, mas tenho algumas dificuldades em me relacionar com quem paga o condomínio, de forma tão regular que passa despercebida a minha dívida sempiterna, cuja razão explicarei um dia mais tarde. No topo dos condóminos a quem um “bom dia” da minha parte sai sempre com ares de pagamento de IRS atrasado e com juros de mora está o recém-chegado inquilino da marquise do 2º esquerdo.<br />De seu nome Filipe Fialho Fagundes, é um rapaz que impressiona ao primeiro olhar, mostrando ser um cruzamento entre um castor, com duas majestosas favolas a enfeitarem-lhe o beiço, e uma ameba, que sendo verdade que não é totalmente desprovido de massa encefálica, denota, impreterivelmente grandes dúvidas em fazer um uso mínimo dela, quando solicitado em conversas de escadaria, sendo que para ele a “perspicácia” é uma louca quimera, só ao nível da busca do Santo Graal ou da apanha dos gambuzinos. Talvez pense duas vezes antes de falar, mas não passam de dois pensamentos repentinos, sensivelmente iguais aos do suicida a três segundos de se travar de razões com o Alfa Pendular que faz a ligação entre o Pinhal Novo e a Funcheira.<br />De ar macambúzio e hálito de cebolada de peixe espada regurgitada, regada com o melhor vinagre Auchan, conta-se que em novo tinha um grande fascínio pelos carros, volantes e tudo o que pudesse ser conduzido, tendo-se empregado, muito cedo na Constrói-mos Lda. Empresa de Construção Civil e Obras Públicas, de onde saiu quinze anos mais tarde exibindo ao peito, ufano de orgulho, duas medalhas por condução exemplar de carrinho de mão e betoneira, bem como um diploma de participação num seminário sob o tema “Dicas e técnicas para manejo de Grua Telescópica e de Roldana”. Contudo os meios de transporte continuaram-lhe no sangue a povoar-lhe o espírito, pelo que enveredou pelo motociclismo, tornando-se proprietário de uma Zundapp Casal Boss. Segundo ele não há nada como o vento na cara, o cabelo ao deus dará, o penico na cabeça, o alcatrão na perna, o betadine e o fenistil na ferida e na queimadura.<br />Actualmente é empresário em nome próprio, assalariado de si próprio que, não raras vezes, se dirige à sede do sindicato para apresentar queixa da sua entidade patronal. Profissionalmente o seu sucesso é indesmentível, sendo um respeitado recolhedor de latas e cobres, líder de mercado na rua em que habitamos, a qual ele palmilha diariamente ao guiador de um carrinho de compras, comprado num leilão da PSP após ter sido apreendido a um agricultor da região de Oleiros na fronteira de Vilar Formoso que tentava contrabandear maçã golden e pêra rocha para Espanha.<br />Na última vez que me cruzei com este condómino no patamar das escadas no 1º andar vinha ele e seu carro de compras da jornada de luta em que se juntou a todos os outros camionistas deste pais numa greve que paralizou o pais e trouxe o mui nobre Filipe para os escaparates da imprensa por ser o único grevista a conduzir uma viatura amiga do ambiente.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-41328895607543982582010-12-22T16:34:00.001+00:002010-12-22T16:34:31.876+00:00A Neve<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Eu bem pigarreei, estrebuchei e em última instância algemei-me ao bonsai que a minha mais que tudo tem na cómoda ao lado da televisão, ameaçando imolar-me, qual mártir palestiniano sem autocarro, mas nada a demoveu, estávamos de partida para 2 dias de férias no imenso frigorifico descampado da Beira Alta, onde o Viriato fazia a cabeça em àgua aos Romanos, tal como o Emplastro faz aos repórteres, e logo naquele fim de semana que eu tinha pensado passar a comer amendoins no sofá enquanto via o Campeonato do Mundo de Malha na Lage 2008.<br />Após o carregamento partimos altas horas da madrugada rumo à bola de nívea continental no nosso Renault 5, creme de la creme de todas as concentrações de tunning realizadas no território compreendido entre o Arade e o Gilão, rebaixado, jantes em policarbonato de composto de sódio, saias Bershka, aleron Airbus 747, naperon em bordado de Castelo Branco na chapeleira e a cereja no topo do bolo, um saco plástico cheio de decibéis áudio visuais devastadores que exalavam do aparelho sonoro da viatura, tal como pôde comprovar um casal de estudantes de Medicina Bio Degradavel que se aproximaram do meu machibombo ao mesmo tempo que Sting sussurrava a plenos pulmões “Roxanne” em falsete e dó menor, o que lhes valeu danos irreversiveis no aparelho auditivo, ao rapaz e um penteado meio caminho entre a Marge Simpson e a Whoopi Goldberg à rapariga. Para completar o cenário idílico só mesmo as asinhas de frango que a minha Maria fez para a viagem que acrescentou mais um tunning à viatura, óleo vegetal esparramado no volante, o que transmitiu toda uma sensação de insegurança à viagem.<br />À chegada a primeira tosse do veiculo, o primeiro engasgar e o que parecia uma pequena inadaptação ao clima não era mais que uma inflamação nos pistões, que o enviou para a mesa de operações durante 3 meses, e que teve consequências nefastas nas minhas rótulas e tendões, devido aos longos quilómetros que tive que palmilhar, de café em café em busca da sagrada mini Sagres durante os meses de baixa do meu fiel companheiro.<br />No que respeita ao deslizamento no manto branco montado em 2 tábuas a coisa correu bem enquanto mantive a cabeça no ar e os pés no chão. O pior foi quando as posições se inverteram e eu descobri a inadequação do vestuário que utilizava, o habitual para quando faço exercício à chuva, ténis, fato treino e fato de oleado. Optando pelo plano B instalei o nalguedo num saco plástico assente no nevado, na esperança que a maior proximidade com o chão diminuísse o atrito com a lei da gravidade, ideia que tirei da cabeça após os primeiros metros percorridos, durante os quais perdi o controlo do tobogã dos pobres, deslizando temerariamente por entre esquiadores de 1 e 2 tábuas em direcção ao granito impávido e sereno do rochedo local, onde, como consequência do choque, deixei 2 dentes, sangue e todo o meu orgulho.<br />A viagem de regresso, qual excursão a Fátima, foi feito num dos 55 lugares do Expresso Braga/Faro, com um saco de gelo na beiça e uma septuagenária à ilharga, orgulhosa do seu mais velho, arrumador de autocarros no terminal rodoviário de Loulé, sendo das poucas pessoas que sabem onde pára o autocarro das 18h30 para o Ameixial, que contudo se encontrava preso na cadeia de Faro por se ter pronunciado negativamente acerca do sabor dos Dom Rodrigos, o que foi considerado uma ofensa à população Algarvia.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-73002011425052303212010-12-22T16:33:00.001+00:002010-12-22T16:33:47.348+00:00As Eleições<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Ah catano, a velha e doce democracia escrita e perpetuada em actos eleitorais, ao quais compareço sem excepção, sempre que estou habilitado para exercer o meu direito e desde que acorde a horas.<br />Por isso mesmo não faltei à chamada e escolhi aquele que penso ser o melhor Presidente da A.U.G., vulgo Associação da Unhaca Grande, da qual sou sócio fundador, nº15. Aliás, não fora um fungo que apanhei no dedo mindinho aos 19 anos que me fez cair a unha e obrigou a suspender a minha filiação e certamente estaria entre os primeiros 5 sócios. Por outro lado fui ajudado pela Deusa Fortuna quando, durante a montagem de uma mesa-de-cabeceira comprada em peças na Mestre Maco martelei a mão, falhando o dedo mindinho por uma….unha negra.<br />Candidatos haviam 2, Crispim Lourenço e Florêncio Semilhas, cada qual com a sua trupe de vice-presidentes e afins, fiéis admiradores da mágica unha latina e em alguns casos, das capilagens faciais muçulmanas.<br />Pessoalmente fui sensível ao apelo de Florêncio Semilhas e como tal votei em Crispim Lourenço, que, caso cumpra o prometido, irá dar seguimento aos anseios de todos os unhistas. Para além disto não pude deixar de reparar no asseio que Crispim demonstra em cavidades importantes como as orelhas e o nariz, não me recordando de ver nariz tão isento de muco nasal como o exibido na cara do meu Candidato, o que demonstra uma utilização irrepreensível da unha de 1,5 cm que tão orgulhosamente ostenta na mão esquerda. Conta-se que no pé direito podem ser vistas 5 unhas do mesmo tamanho.<br />Uma das principais causas por que nos batemos na A.U.G. é a inclusão das Unhas de Gel num regime especial de IVA, ficando assim livre dos 21% e estando mais acessível aos Unhistas da Terceira Idade que têm de cortar a sua unha natural por imposição dos Lares onde estão em regime de internato, tendo de recorrer ao unhedo artificial, para poderem enfrentar a vida social. Trata-se apenas de dar dignidade a quem já a não pode ter. Outra causa pela qual no unimos é a redução das cotas de produção de corta unhas, tesouras e limas na UE, colocando-a ao nível da produção de azeitona. Para que esta redução possa ter efeito é necessária, também, a redução das importações destes produtos vindas da China.<br />Por outro lado, de há 10 anos a esta parte que vamos entregando na Assembleia de Freguesia de Bensafrim a proposta de ser dado o nome de Bento Bentes a uma rua da localidade, homenageando assim um grande unhista, talhante que lascava pernas de presunto com o seu ex. libris.<br />Todas estas reivindicações poderiam de uma vez por todas chegar a bom porto, não fosse o caso de eu ter sido o único votante a colocar a cruz em frente ao nome de Crispim Lourenço, sendo que nem o próprio acreditou em si. De qualquer forma nada como uma tarde no sofá a limpar cavidades corporais para levantar a moral de qualquer unhista, especialmente se se comeu carne de porco ao almoço e se tem carne entre o meio dos dentes.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-86832603504142760392010-12-22T16:31:00.000+00:002010-12-22T16:32:26.069+00:00O Sonho<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Martim Moniz – Ahhh bolas, madeira de azinho do Alentejo. ‘stantino vós tendes ai um machado, daqueles de puro ferro lusitano, fundido nas serralharias de Ponte de Lima, de el Rey D. Afonso Henriques?<br />Constantino – Não meu capitão, deixei-o em casa para o meu mais velho estraçalhar o monte de lenha que tenho lá no jardim, a tapar-me as buganvílias, que o Inverno está a chegar e promete ser agreste em Guimarães, terra de el Rey D. Afonso Henriques.<br />Martim Moniz – Raios me partam meu fiel escudeiro, estes rapazolas de tez morena são levadinhos da breca. Fecham-se dentro das amuradas e não deixam entrar os súbditos de el Rey D. Afonso Henriques. E que grizo faz por aqui, não devia ter vindo de calções e t-shirt, mas como el Rey D. Afonso Henriques me disse que íamos só dar um saltinho a Lisboa e depois seguíamos direitinhos para o Algarve, vim logo preparado para uma banhoca. Aliás, até tive umas aulinhas de inglês, não vá aparecer peixe graúdo das terras dos Saxões.<br />Constantino – Compartilho com vossa excelência toda a sua indignação. Contudo na minha mala de viagem não cabia mais nada. A minha Maria esmerou-se ao preparar-me a bagagem, para que nada me faltasse. Só espadas são 3, que isto com as humidades o espadario tem tendência a criar focos de ferrugem, que dificultam o corte de zonas mais expostas ao osso, como o peito. Tivéssemos já inventado o aço inox e isto não aconteceria.<br />Para encher ainda mais, estava escrito no Convite que o Dress Code para este evento incluía caneleiras em ferro, o que fez com que tivesse que trazer também o conjunto de braçadeiras em ferro, porque as de cabedal, mais leves e maleáveis, ficam mal com o ferro da canela.<br />Martim Moniz – Pois que não me conte mais nada bravo guerreiro, que eu nem espaço tive para carregar comigo um reles necessaire com desodorizante e fio dental, pelo que ando com restos de carne no meio dos dentes. Como fiel escudeiro de el Rey D. Afonso Henriques tenho que arcar também com a troucha dele, que me mandou sua esposa, ciente da humidade que cai à noite aqui por terras mouras. Veja com seus próprios olhos tudo o que carrego comigo, e que pertence ao nosso soberano, mantas, edredons, pantufas de noite, cinto de castidade de D. Mafalda de Sabóia, pij…<br />El Rey D. Afonso Henriques – Martim, que fazes tu com o cinto de castidade de minha consorte e Rainha de Portugal???????<br />Martim Moniz – Meu Rei, puro engano, não sei como explicar, coisas da vida direi, ahh e tal e coiso e fixe fixe era fugir daquiiiiiii……<br />Constantino – Martimmmm, Martimmm, a porta à sua direita, rápido que está a fechar, esconda-se....<br />Quando me aprestava para presenciar um momento decisivo para a história de Portugal fui subitamente acordado pela minha Maria, que tinha parado de assobiar pelo nariz, acordada pelo meu sonho entusiástico. Só voltarei a sentir tal entusiasmo no dia em que a caniche contrair uma doença venérea, que a impossibilite de roer as patas do pchiché dá sala.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4643417155042381858.post-21062903553091863282010-12-22T16:30:00.000+00:002010-12-22T16:31:09.622+00:00O Julgamento<div class="post-body entry-content"><div align="justify"><span style="FONT-FAMILY: arial">Ao fim de anos a fio de sofrimento, chegou finalmente o dia do julgamento da minha cunhada Florinda para pôr termo à sua sociedade conjugal com o meu, agora, ex. cunhado Gracindo, encerador de capôts de profissão, que tem para com as mulheres a mesma sensibilidade que 2 quilos de pedra pomes têm para os meus joanetes.<br />Para comemorar o que parecia consumado foi preparado pela minha esposa um banquete digno de reis, empestando as minhas assoalhadas habitacionais com um cheiro a fritos que só era atenuado pelo também omnipresente cheiro a pêlo de cão molhado, resultante de uma queda acidental do caniche na pia da cozinha, onde jazia a loiça suja de um almoço que havia contemplado feijoada. Acrescente-se este problema de olfacto ao alarido produzido pelas colegas de trabalho da minha cunhada, trabalhadora assalariada da Divisão de Salubridade da Câmara, vulgo varredora de espaços públicos e está identificada a causa da minha pressa em encaminhar todo o mulherio para o tribunal.<br />À porta do Domus Invstitiae comprei um combi de pipocas com natas e granizado de ameixa para ir degustando durante o espectáculo, que iria ser antecedido pela actuação do Grupo de Cantares ao Desafio da Costa da Caparica. Esteve também à disposição de todos um Workshop de Apanha de Agrião, ministrado por um antigo paparazzi que se viu obrigado a mudar de profissão com o fim da produção de cartuchos para máquinas Polaroid. Para os amantes da arte, o gabinete da porteira do tribunal estava aberto e lá se encontrava patente uma exposição de print screens com os mais diversos erros e bugs comunicados pelo Windows Vista.<br />Adquirido o bilhete, fiquei sentado na fila H cadeira 7, o que me deixou exactamente atrás de um pilar de estilo românico que destoava por completo no edifício de traça Gótica e que me impedia de confirmar os rumores que circulavam à minha volta, que diziam que a advogada de defesa estava na flor da idade e exibia cabelo escuro e uma mini saia, tornando difícil de explicar o voto de castidade que havia feito aquando da sua entrada para um Convento de Carmelitas ali para a zona de Foz Côa.<br />O julgamento decorreu de forma dramática com a Florinda a acusar Gracindo de anos a fio de maus-tratos, consumados em longas sessões de cócegas. Causou grande consternação na audiência a sua descrição daquela noite em que, segundo ela, o futuro ex marido chegou tarde a casa tresandando a leite com mel e pão com tulicreme, trazendo escondida atrás das costas uma pena de pombo correio, com a qual lhe fez cócegas nos pés durante 10 minutos, ficando ela com falta de ar devido a um súbito ataque de asma e com os pés em chaga, deixando também queimar um top da Hello Kitty cujo engomamento foi interrompido por Gracindo, ficando a peça de vestuário desgraçadamente esquecida debaixo do ferro ligado.<br />O resultado do julgamento só o soube horas mais tarde pois fui abruptamente convidado a abandonar a sala de audiências visto o meu ressonar estar a perturbar o normal funcionamento da sessão.</span></div></div>Constantinohttp://www.blogger.com/profile/02681791420744278318noreply@blogger.com0