quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As Finanças

Fui convocado para comparecer na Repartição de Finanças. Quando li a carta a solicitar a minha presença em tão ilustre local estava, qual Menino Jesus a ver na tv o filme “Voando sobre um ninho cucos” com o Jack Nicholson a ter ataques de loucura maiores que os aumentos da Euribor, só comparáveis aos da minha ilustre esposa quando anteontem verti urina à base de cerveja no chão da casa de banho, devido a um estranho anti ciclone que apareceu na casa de banho, enevoando-me a visão.
Uma vez na Repartição de Finanças, local onde as cadeiras da sala de espera escasseavam perante tamanha multidão, havia pessoas sentadas no chão fazendo com que o local se assemelhasse mais a um festival de verão sem casas de banho portáteis nem drogas que a uma instituição estatal.
Inserido no sistema de senhas adquiri um heterónimo chamado “nº 326” e aguardei a publicação deste no placard informativo. Á minha frente tinha um padre que vinha resolver os problemas relacionados com a não declaração do dizimo, ao qual já tinha sido penhorado 1 frasco de Água Benta do Alardo, 4 pacotes de hóstias, 1 sacristão e 5 beatas, sendo que uma delas havia sido encontrada no quarto do dito pároco, usando apenas uma cruz para encobrir os seios e a púbis, que só por acaso também lhe tapava a cara.
Ainda à espera de vez para assomar ao balcão encontrava-se também um dono de circo que vinha comunicar a falência do seu ganha-pão, uma vez que uma altercação entre um elefante indiano e um elefante africano, acerca de qual das duas raças possuía uma tromba maior resultou na completa demolição da tenda do circo, bem como de 2 camiões e da jaula dos tigres, que tinham aproveitado a confusão para fugirem, estando agora sob custódia de uma associação de protecção dos animais que lhes iria dar apoio jurídico a fim de processarem o ex-tratador por danos morais, alegando que este lhes tinha chamado de hienas, há cerca de 2 semanas.
Lá dentro os funcionários encarnavam a profissão em todo o seu esplendor, estando um grupo envolvido num animado jogo de monopólio, no qual um dos jogadores caiu na casa prisão, utilizando uma cunha do chefe de repartição para desta sair sem que tivesse que pagar a coima estabelecida pelas regras do jogo, tendo em troca que garantir à filha do referido chefe um lugar de educadora de infância no jardim infantil onde a sua esposa laborava. Outro grupo assistia com indisfarçável deleite à actuação das cheer leaders do Sporting, de pompons nas mãos e pernas à mercê do frio que expirava do ar condicionado que lhes iriçava os pêlos desses mesmos membros inferiores.
Como desempregado não pode perder tempo com estas trivialidades e uma vez que tinha as minhocas em casa a morrer, decidi entregar a minha senha a um jovem vestido de coelho da Páscoa que tinha entrado depois de mim e dirigi-me até à marina para tentar apanhar umas tainhas para o jantar.

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