quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Sonho

Martim Moniz – Ahhh bolas, madeira de azinho do Alentejo. ‘stantino vós tendes ai um machado, daqueles de puro ferro lusitano, fundido nas serralharias de Ponte de Lima, de el Rey D. Afonso Henriques?
Constantino – Não meu capitão, deixei-o em casa para o meu mais velho estraçalhar o monte de lenha que tenho lá no jardim, a tapar-me as buganvílias, que o Inverno está a chegar e promete ser agreste em Guimarães, terra de el Rey D. Afonso Henriques.
Martim Moniz – Raios me partam meu fiel escudeiro, estes rapazolas de tez morena são levadinhos da breca. Fecham-se dentro das amuradas e não deixam entrar os súbditos de el Rey D. Afonso Henriques. E que grizo faz por aqui, não devia ter vindo de calções e t-shirt, mas como el Rey D. Afonso Henriques me disse que íamos só dar um saltinho a Lisboa e depois seguíamos direitinhos para o Algarve, vim logo preparado para uma banhoca. Aliás, até tive umas aulinhas de inglês, não vá aparecer peixe graúdo das terras dos Saxões.
Constantino – Compartilho com vossa excelência toda a sua indignação. Contudo na minha mala de viagem não cabia mais nada. A minha Maria esmerou-se ao preparar-me a bagagem, para que nada me faltasse. Só espadas são 3, que isto com as humidades o espadario tem tendência a criar focos de ferrugem, que dificultam o corte de zonas mais expostas ao osso, como o peito. Tivéssemos já inventado o aço inox e isto não aconteceria.
Para encher ainda mais, estava escrito no Convite que o Dress Code para este evento incluía caneleiras em ferro, o que fez com que tivesse que trazer também o conjunto de braçadeiras em ferro, porque as de cabedal, mais leves e maleáveis, ficam mal com o ferro da canela.
Martim Moniz – Pois que não me conte mais nada bravo guerreiro, que eu nem espaço tive para carregar comigo um reles necessaire com desodorizante e fio dental, pelo que ando com restos de carne no meio dos dentes. Como fiel escudeiro de el Rey D. Afonso Henriques tenho que arcar também com a troucha dele, que me mandou sua esposa, ciente da humidade que cai à noite aqui por terras mouras. Veja com seus próprios olhos tudo o que carrego comigo, e que pertence ao nosso soberano, mantas, edredons, pantufas de noite, cinto de castidade de D. Mafalda de Sabóia, pij…
El Rey D. Afonso Henriques – Martim, que fazes tu com o cinto de castidade de minha consorte e Rainha de Portugal???????
Martim Moniz – Meu Rei, puro engano, não sei como explicar, coisas da vida direi, ahh e tal e coiso e fixe fixe era fugir daquiiiiiii……
Constantino – Martimmmm, Martimmm, a porta à sua direita, rápido que está a fechar, esconda-se....
Quando me aprestava para presenciar um momento decisivo para a história de Portugal fui subitamente acordado pela minha Maria, que tinha parado de assobiar pelo nariz, acordada pelo meu sonho entusiástico. Só voltarei a sentir tal entusiasmo no dia em que a caniche contrair uma doença venérea, que a impossibilite de roer as patas do pchiché dá sala.

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