quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Os Guerrilheiros

Atingiu-me como uma seringa da vacina BCG espetada na veia por uma antiga enfermeira do Hospital Júlio de Matos, e tirou-me a modorra instalada no meu corpo que jazia deitado no sofá onde eu fazia nada, algo que, modéstia à parte, executo com indesmentível qualidade. Pedro e Inês haviam sido capturados e a cara do rapaz, com cicatrizes de uma varicela mal curada aparecia escarrapachada no meu plasma, tapando o nariz à entrada do Tribunal.
Pedro e Inês haviam sido meus colegas de escola. Mais tarde casaram-se, formando um casal pouco menos que perfeitos, sendo que às vezes até se beijavam chegando inclusive a serem vistos de mão dada na rua, numa noite de lua em quarto minguante. Curiosamente, tal como na famosa lenda, viriam a separar-se devido à Realeza, numa discussão durante um jogo de sueca, em que a rapariga afirmou a pés juntos que a Dama valia mais que o Valete ao que o rapaz ripostou que nunca a Rainha teria mais poder que o Príncipe terminando a discussão com uma acusação de machismo contra o jovem a quem a razão acudia.
A reunificação fez-se passado 5 anos, quando o espírito revolucionário já invadira as mentes dos pombinhos e juntos formaram o P.I.L.A., Partido Independente de Libertação de Almancil, famoso pelas suas acções de guerrilha, atacando instituições com ligações à Câmara Municipal de Loulé pintando-lhes motivos de Natal nas janelas dos edifícios e veículos bem como por uma sucessão de raptos de plantas e respectivos vasos que se encontravam espalhados pela vila, numa tentativa de atingir o poder Camarário onde mais lhe doía, o Departamento de Jardinagem e Espaços Verdes, escondendo-se após os ataques nas matas verdejantes de silvas, pinheiros e estrume do Centro Hípico do Corgo da Zorra. Após o desmantelamento da Organização Terrorista foi tornado público todo um sistema de túneis camuflados por diversos montes de gravilha deixados para trás pela Junta Autónoma das Estradas nos anos 90 aquando da reabilitação da Estrada Nacional 245 que liga Almancil aos aldeamentos turísticos circundantes.
Durante anos o Exército combateu Pedro, Inês e sua Quadrilha com Pombos Dejectores, formados na Baixa Pombalina, onde entre outras coisas tinham desenvolvido uma capacidade quase inata para lançar dejectos a grande altura em cima de viaturas automóveis, dilacerando-lhes o esmalte da pintura e deixando marcas irreversíveis no meio de transporte. Esta técnica foi utilizada na tentativa de localização dos meus antigos colegas a fim de lhes marcar os carros para serem mais facilmente identificados. Isto motivou que os Bandoleiros tivessem que andar com um pano de camurça no coldre e fossem lestos na limpeza dos seus automóveis a fim de não serem descobertos.
Infelizmente para eles, foi colocado na sua peugada o General Pardal, que se gabava de ter cumprido 2 comissões no estrangeiro ao serviço da ONU mas na realidade tinha estado além fronteiras ao serviço da operadora de Internet ONI. Com ou sem formação militar, teve o mérito de encurralar os foras da lei no seu esconderijo e quando gritou no seu megafone “Rebenta a Bolha” já não havia escapatória possível para os foragidos e estes cumpriram os preceitos da rendição, saindo dos túneis empunhando uma bandeira aos quadrados pretos e brancos.
Toda esta história foi contada em directo pelo pivô do telejornal, mas quando terminou já eu estava ferrado no sono novamente, depois de ter saciado o estômago com um batido de tomate e cenoura, pelo que só ouvi metade da epopeia.

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